O governo Dilma chega às vésperas das eleições com o pior dos mundos: está com a economia estagnada e voltou a ter uma inflação anual entre as mais altas do seu mandato. O crescimento do PIB no primeiro trimestre foi de 0,2% e os prognósticos apontam para um avanço da mesma magnitude ou mesmo negativo no segundo trimestre. Para todo o ano as projeções são de 1,07%.
Hoje sai a inflação que apontará para o período de 12 meses terminado em junho se não o estouro do teto da meta de inflação (6,5%) ao menos algo próximo disso. Seja como for, esse estouro ao longo dos meses de julho a outubro é quase uma necessidade estatística, na medida em que, nesse período em 2013, a inflação foi muito baixa. As últimas projeções captadas pela Pesquisa Focus do Banco Central (BC) com 100 instituições acusam para 2014 uma inflação de 6,46%.
Do ponto de vista político, é um resultado ruim. Em princípio, nada tira mais votos do governo do que a percepção do eleitor de que seu poder aquisitivo está sendo minado pela alta de preços. É também o que explica o mal-estar generalizado, inclusive dentro do PT, e a maior parte das manifestações de protesto realizadas desde junho de 2013.
Diante desse mau desempenho, o governo parece perplexo. O ministro Guido Mantega tem dito que a inflação é um dos principais responsáveis pelo baixo crescimento, como se a alta de preços não fosse o resultado das opções de política econômica feitas pelo governo.
Mantega aponta, também, a desaceleração do crédito como fator adicional do baixo desempenho do PIB, como se ele não fosse procurado e desejado pela política de juros do BC que, para todos os efeitos, é organismo do governo federal.
As duas únicas providências tomadas para segurar a inflação foram o represamento dos preços administrados (25% dos preços da economia) e a eliminação do IOF na tomada de empréstimos em moeda estrangeira para que a maior entrada de dólares contribuísse para derrubar as cotações do dólar no câmbio interno (valorizar o real) e barateasse em alguma coisa os produtos importados.
São decisões que tendem a agravar as distorções. O estancamento dos preços administrados a fim de conter a inflação também contribuiu para a alta. O empresário, por exemplo, já meteu na cabeça que nos primeiros meses de 2015 terá uma inflação em 12 meses à altura de 7%, porque não sobrará outra escolha para o governo senão descomprimir os preços administrados. Esses 7% estão nas projeções de gente muito próxima do governo. O economista Nelson Barbosa, que foi o número dois do Ministério da Fazenda até junho de 2013, por exemplo, tem dito que esses 7% serão inevitáveis. O BC também tem reconhecido esse efeito.
A política de valorização do real vai na contramão do que vinha desejando o governo, que é dar mais competitividade à indústria. Nas cotações atuais, o câmbio real (descontada a inflação do período) está quase à mesma altura de agosto de 2013, quando o governo iniciou a intervenção no câmbio para desvalorizar a moeda nacional.
Não é só perplexidade. O governo também não quer tomar decisões duras às vésperas das eleições.
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