O GLOBO - 08/07
Seremos 200 milhões contra 82 milhões no jogo de hoje. Em população, ganhamos da Alemanha. O número de brasileiros ainda crescerá nas próximas copas, e o de alemães, tende a cair. Eles precisam dos imigrantes. O PIB per capita deles é quase cinco vezes o nosso. No crescimento de 2014, há praticamente empate. No comércio bilateral, nosso déficit foi de US$ 8,6 bi em 2013; eles jogam no ataque, e nós, na retranca.
Hoje sairá a inflação brasileira de junho, medida pelo IPCA, e ela deve levar a taxa em 12 meses a bater na trave, na opinião do economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio. Ele calcula um número de 0,40%, mas há dispersão de palpites dos economistas. Se ficar em 0,38%, o índice em 12 meses vai para 6,5%. Os dois países passaram, em épocas bem diferentes, por processos hiperinflacionários. Lá, como aqui, isso ficou no DNA. Brasileiros também detestam inflação alta. Mas a deles está bem baixinha e não se imagina uma taxa anual como temos tolerado. A previsão do professor Luiz Roberto Cunha é que, se não estourar o teto da meta agora, certamente isso ocorrerá em julho.
Em termos de PIB — e não PIB per capita — nosso adversário de hoje é uma economia de US$ 3,8 trilhões contra os nossos US$ 2,2 tri. A Alemanha é a maior economia da Europa; o Brasil, a maior da América Latina. Mas eles viraram o carro-chefe do continente, reduzindo o poder de outros líderes que rivalizavam com eles, como a França. Hoje, são a âncora do euro. Foi o país da região que passou com mais resistência pela crise financeira de 2008 apesar do tranco inicial. A Alemanha passou por uma recessão severa em 2009, caindo 5,5%. O Brasil, que estava crescendo fortemente, foi ao chão, mas não foi uma queda do mesmo tamanho: apenas 0,3%. Em 2010, o Brasil cresceu 7,5%, e eles, 3,8%, e 3,3% no ano seguinte, quando tivemos desempenho pior. Este ano, o FMI prevê para eles e para o Brasil praticamente o mesmo crescimento: 1,8% contra 1,6%. Mas, aqui, a projeção está encolhendo. Ontem mesmo, o Boletim Focus do Banco Central trouxe a sexta revisão para baixo do crescimento, de acordo com as instituições consultadas. Agora é 1,07%.
A força da economia alemã vem principalmente do comércio exterior, onde eles jogam no ataque, e nós, na retranca. Eles sempre foram grandes exportadores e grandes importadores, fazem do comércio exterior sua maior força e são o país que teve mais sucesso no comércio com a Ásia. É por isso que a chanceler Angela Merkel está fazendo sua sétima visita à China.
O Brasil, como se sabe, é pouco agressivo no comércio, aumentou as exportações quando subiram os preços das commodities, e tem a tendência de elevar as barreiras às importações. Mesmo assim, jogando todo na defesa, acumula um déficit de US$ 48 bilhões com a Alemanha desde 2000. A julgar pelo comércio, é melhor jogar no ataque. De janeiro a maio deste ano, nossos três produtos mais exportados para os alemães foram café, óleo de soja e minério de ferro. Produtos básicos. Já nossas principais importações foram automóveis, remédios e cloreto de sódio. Eles exportam para o mundo US$ 1,45 trilhão e são o terceiro maior no ranking global; o Brasil, com US$ 242 bilhões, está em 22º lugar.
Ainda que o tamanho da população nada tenha a ver com o desempenho no futebol, já que China e Índia são uma negação no esporte, porque estamos em clima de Brasil x Alemanha, fui olhar também os dados demográficos. Segundo José Eustáquio Diniz Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE) do IBGE, eles estão entrando na armadilha da taxa de fecundidade baixa demais, em que começam a perder população muito rapidamente. Ela já começou a cair, apesar de terem entrado mais de 900 mil imigrantes entre 2000 e 2005. Aliás, em 2005, a população era de 83,8 milhões, e agora está em 82 milhões. Entre 2005 e 2020, o cálculo é que a Alemanha encolha em dois milhões. Mas o dado mais relevante, segundo José Eustáquio, é o da idade mediana. A deles é de 46 anos, a do Brasil é de 24 anos. O que significa que metade da população deles tem mais de 46 anos. Nossa gente ainda é jovem.
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