FOLHA DE SP - 09/05
Instalação de CPIs da Petrobras e do cartel de trens se submete ao interesse eleitoral, o que gera dúvidas sobre resultados concretos
É tarefa inglória tentar entender os trâmites e as chicanas que acompanham a criação da CPI da Petrobras no Congresso Nacional.
O mais recente desenvolvimento da trama, determinado nesta quarta-feira pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), leva à formação de uma comissão mista, com deputados e senadores.
Cede-se, nesse ponto, às demandas da oposição, que enxergava pouco potencial inquisitivo na primeira CPI, composta exclusivamente de senadores.
Ao mesmo tempo, as forças governistas contabilizaram sua vitória. Renan mandou instalar outra Comissão Parlamentar de Inquérito, esta voltada aos contratos envolvendo trens nos governos de São Paulo e do Distrito Federal.
O escândalo paulista, em particular, atinge uma longa linhagem de administrações do PSDB, e as iniciativas para esclarecê-lo em âmbito estadual não foram, até aqui, minimamente convincentes.
Confrontado com as notícias de que um cartel organizava concorrências do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, o governador Geraldo Alckmin procurou desvencilhar-se das desconfianças que cercavam seu partido.
Entre outras medidas que de pouco serviram por enquanto, recorreu ao Judiciário. Afinal, consta que o próprio Estado sofreu prejuízos com o suposto acerto das licitações entre empresas privadas.
Ocorre que a Justiça ameaça desconsiderar o pleito, dadas as falhas técnicas com que foi encaminhado. Eram visíveis a olho nu. Primeiro, o governo estadual mencionava só uma empresa, mas um cartel é composto de várias.
Corrigida a omissão, a ruidosa iniciativa prosseguiu por mais alguns meses até recair, nesta semana, em seu segundo ridículo. Era preciso que o governo fizesse uma estimativa do montante perdido com os negócios suspeitos.
Por diversas vezes a administração paulista deixou de observar a exigência; impossível quantificar, afirma-se, o dano a ser reparado.
Teve-se, assim, uma ação judicial movida não se sabia direito contra quem, exigindo não se sabe quanto, em decorrência de supostas irregularidades que teriam sido praticadas sistematicamente por mais de uma década, mas de que ninguém, nas seguidas gestões tucanas, tinha conhecimento.
Diante de tanta inocência, é lícito que até os santos desconfiem. Tenta-se agora promover uma CPI sobre o caso, no âmbito federal --uma vez que da Assembleia Legislativa paulista, sob domínio do PSDB, nada há a esperar.
Em Brasília, as CPIs da Petrobras e do cartel se submetem, por sua vez, ao interesse eleitoral. É infelizmente duvidoso que os inquéritos resultem em dados concretos nesse clima; mas, quando as suspeitas de corrupção se generalizam por todos os partidos, é pelo menos saudável que nenhum lado saia preservado no processo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário