O Estado de S.Paulo - 05/03
A relação entre o governo Dilma e os empresários nunca pareceu tão tensa. A mútua desconfiança não se resume apenas, na avaliação do governo, de que o empresário só pensa naquilo, só pensa em faturar; e, na avaliação do empresário, de que o governo pretende transformá-lo em líder de instituição de caridade. As raízes dessa relação impregnada de antagonismos parecem mais profundas. Misturam-se coisas complicadas.
A chamada República Sindicalista, que corresponde ao trabalhador e, principalmente, às lideranças sindicais na linha de frente do governo, carrega a herança dos conflitos entre patrão e empregado e da luta pelas chamadas conquistas do trabalhador. Nesse clima, o empresário sempre foi entendido como quem está sempre disposto a tirar o sangue e a mais valia do trabalhador, contra o qual se fazem greves, promovem-se ações na Justiça do Trabalho e acordos pragmáticos que podem ser desrespeitados de parte a parte.
Também permeiam tudo antigos preconceitos (ou seriam conceitos?) ideológicos. O empresário é visto como aquele que está no lado do capital, faz alianças internacionais com interesses estrangeiros, defende o neoliberalismo, o imperialismo das grandes potências e o Consenso de Washington.
Farinha do mesmo saco são também os latifundiários, os ruralistas, os banqueiros e todas as forças identificadas com os interesses financeiros, sejam eles os rentistas de sempre ou os administradores de grandes fundos de investimento.
Na história das esquerdas brasileiras, antes mesmo do início da guerra fria, houve um momento em que foi preciso fazer alianças táticas com "a burguesia nacional para enfrentar o imperialismo internacional". A partir daí o empresário passou a ser tratado com níveis variáveis de tolerância.
E muito cedo o PT entendeu que precisava cortejar o empresário, quando não por outras razões, pelo menos porque campanhas eleitorais não podem ser financiadas apenas com rifas. Mal ou bem é dele que saem as mais alentadas contribuições.
O presidente Lula entendeu que devesse ter um empresário na chapa que disputou as eleições. E, assim, incorporou o Zé Alencar. E o resto das relações com eles passou a ser administrado pelo Conselhão (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social). Como foi preciso garantir o investimento e o emprego, o BNDES se encarregou de eleger meia dúzia de futuros campeões e de fornecer-lhes crédito subsidiado, sempre com boas doses de franciscanismo, o princípio segundo o qual é dando que se recebe.
Mas a rigor, ao longo das administrações do PT, o empresário tem mais é que colocar-se no seu devido lugar. Por isso, quando o então ministro do Desenvolvimento Fernando Pimentel tratou de desqualificar cobranças de políticas coerentes de desenvolvimento econômico feitas pelo presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Pedro Passos; quando o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, preferiu dizer que o empresário não tem de "fazer beicinho" para o governo, toda essa carga centenária de uma relação mal resolvida acaba aflorando.
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