O Estado de S.Paulo - 14/03
O consumo no Brasil continua forte, mas há sinais de que começa a correr mais dentro da normalidade, sem provocar distorções tão fortes como as provocadas nos últimos três anos.
Em janeiro (não há dados consolidados mais recentes), o volume de vendas no varejo cresceu 0,4% em relação a dezembro, que se segue a uma queda de 0,2% em dezembro em relação ao mês anterior (veja gráfico). Quem não passa do papo de ascensorista - tipo subiu-desceu, ficou no mesmo andar - não consegue apreender o movimento mais importante.
E o mais importante é a desaceleração do consumo, especialmente quando se olha para além da natural volatilidade das estatísticas mês a mês.
Essa desaceleração é fator positivo na medida em que a principal distorção da economia brasileira é a de que a demanda vinha correndo bem acima da oferta, daí a inflação e a disparada das importações. Nos 12 meses terminados em janeiro, o consumo cresceu 4,3% e, no mesmo período (na verdade, terminado em dezembro), já sabemos que o PIB avançou apenas 2,3%.
Duas são as considerações a fazer a partir dessa primeira aproximação com esses dados. A primeira tem a ver com as verdadeiras causas dessa desaceleração.
Uma dessas causas é a redução do crescimento da renda. A velocidade da recomposição dos salários já é mais fraca, na medida em que o crescimento do PIB, que entra no cálculo do reajuste do salário mínimo, também tem sido substancialmente mais baixo. Mas o principal redutor de renda tem sido a inflação, elevada demais, que tem oscilado em torno dos 6% em períodos de 12 meses. A alta generalizada de preços reduz o volume de mercadorias e serviços que cabe no orçamento doméstico.
Também funciona como redutor do aumento do consumo a expansão mais vagarosa das operações de crédito livre dos bancos. Há dois anos, esse segmento avançava à velocidade de 17% ao ano. Agora, não passa de 7,5%. Ou seja, crédito a passos mais lentos determina consumo também a passos mais lentos.
O principal fator de contenção da expansão do consumo é a política monetária. O Banco Central está reduzindo a ração de moeda na economia. É a política cujos efeitos correspondem a aumento do preço do dinheiro, que são os juros. A taxa básica (Selic) estava a 7,25% ao ano em abril de 2013 e chegou a 10,75% ao ano agora, em fevereiro.
A segunda consideração a fazer tem a ver com o que se pode esperar da política econômica orquestrada pelo governo. Se esse crescimento mais lento do varejo acontecesse há pouco mais de um ano, o governo Dilma estaria preocupado porque havia elegido o consumo como locomotiva da atividade econômica. Foi por isso que deixou a gastança correr mais solta. Depois das bordoadas que levou, o governo entendeu que tem de dar mais força para o investimento. Ao mesmo tempo, viu que é preciso mais cuidado com a política fiscal (equilíbrio das contas públicas). Se não houver recaída nessa postura de recuperação, as despesas do setor público terão menos influência no ritmo do consumo. Do lado da política monetária (política de juros) também se podem esperar freios mais curtos.
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