A ECONOMIA DA CHINA teve o pior início do ano em quase uma década, soube-se ontem. O investimento em expansão da capacidade produtiva e construção cresceu no ritmo mais lento desde 2002. A produção da indústria não aumentava tão pouco desde 2009. As vendas do varejo não cresciam tão devagar desde 2004. Há queda de preços no atacado.
Além do mais, o governo ainda não recuou na intenção de frear e mudar o jeitão do crescimento chinês. Isto é, dar cabo do excesso de investimento e do crescimento demasiado do crédito, fenômenos siameses. A China cria capacidade produtiva demais, ociosa, com base em crédito fácil, mas não apenas.
Muito financiamento tem origem num sistema bancário paralelo ("shadow banking"). Trata-se de fundos que captam dinheiro para investimentos em projetos com retornos e garantias duvidosas e escassa supervisão.
A situação fica ainda um pouco mais tensa, a princípio, porque o governo chinês quer da cabo do descaso com o risco de um negócio dar com os burros n'água. Como o Estado costumava salvar da falência empresas, bancos e mesmo fundos de investimento temerários, havia estímulo adicional para a expansão de crédito e empreendimentos ruins.
Nos últimos 15 dias, uma siderúrgica deu calote num empréstimo e uma empresa de painéis solares deixou de pagar juros de seus títulos. As empresas são privadas e pequenas, embora a quebra da siderúrgica possa levar outras empresas e até bancos menores consigo. Os povos do mercado mundial especulam se tais eventos vão detonar uma onda de pânico.
No entanto, o governo chinês disse nesta semana que haverá quebras, mas que vai, digamos, moderar o risco sistêmico (de quebras em cadeia). Quer dosar a implementação da disciplina de mercado (moderação no crédito e no investimento, melhora de sua qualidade, incentivada, claro, pelo risco de quebra, sem o colchão do Estado).
Relatórios de bancões mundiais mais entendidos em China especulam, de resto, que o governo não vai deixar a peteca cair, arriscar um crescimento do PIB muito menor que a meta de 7,5% neste ano -desde a crise de 2008, quando a economia rateia, o governo dá uma relaxada no crédito.
E daí? Esses piripaques chineses têm derrubado, por exemplo, o preço de ferro e cobre. Pode, pois, jogar para baixo o preço de muita exportação de país emergente. Mas não há muita certeza nem mesmo sobre os motivos da queda do preço de minerais metálicos. Se deve ao desaquecimento chinês, de fato, ou ao fato de que o governo quer dar cabo das operações de tomada de crédito garantidas por estoques de ferro ou cobre, como se faz na China para inflar o crédito, dando um drible em restrições mais diretas do governo?
Uma queda firme no preço dessas commodities abala alguns países, Chile e Peru, por exemplo. Sim, o Brasil exporta um mundo de ferro para a China, mas o efeito direto na economia brasileira não seria lá grande. No entanto, uma nova rodada de especulações, realistas ou amalucadas, sobre os problemas das economias emergentes pode nos contaminar, como tem ocorrido desde maio do ano passado, vide as desvalorizações fortes do real
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