CORREIO BRAZILIENSE - 08/03
A existência de um dia dedicado à mulher seria patética numa sociedade livre de discriminação de gênero. Se não patética, pelo menos folclórica, extravagância de satisfeitos que não têm mais nada por que lutar. Ou, em hipótese menos cor-de-rosa, em países em que impera a igualdade de direitos - mulher e homem com as mesmas prerrogativas e deveres estabelecidos na lei.
No Brasil, a Constituição é clara. O art. 5º veda toda forma de discriminação. As demais leis não apresentam tendência a tratamento desigual baseado em sexo. Sabe-se, porém, que, apesar da legislação moderna, tratam-se diferentemente as pessoas em razão de pertencerem ao universo masculino ou feminino. A atrasada e persistente distinção tem raízes culturais profundas. No século 21, parte da sociedade ainda olha para os tempos sintetizados pelo padre Antônio Vieira.
"A mulher", escreveu o jesuíta nos anos 1600, "só deve sair de casa três vezes: no batizado, no casamento e no enterro." Mira ainda, talvez saudosa, o longo período em que a mulher era proibida de votar e ser votada, de disputar cargo público ou vaga no mercado de trabalho. Frequentar escola era sonho irrealizável; ler e escrever, privilégio masculino. Os afazeres domésticos, sim, lhe pertenciam. A ela cabia, sobretudo, cuidar da casa, dos filhos e do marido.
O país avançou a passos largos a partir da metade do século passado. Graças aos movimentos libertários que sacudiram o mundo na década de 1960, entre os quais sobressai o feminista, conquistas se multiplicaram. Hoje, a brasileira tem média de escolaridade maior que a do brasileiro. Está amplamente inserida no mercado de trabalho. Dilma Rousseff chefia o Executivo ungida pelo voto popular.
Mas falta muito para alcançar a efetiva igualdade de direitos. Excluído o serviço público que recruta mão de obra por meio de concurso aberto, os salários delas estão aquém dos pagos a eles no desempenho das mesmas funções. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad-2007), mulheres e homens só vão alcançar a equiparação em 2100. Não só. Os dados da violência são alarmantes. Segundo a ONU, uma mulher sofre agressão a cada cinco minutos. O responsável por 70% dos atos de barbárie é gente de casa - marido ou namorado.
Há muitas barreiras a serem derrubadas. Mudar condutas sociais históricas, porém, é processo longo. Exige o empenho dos diferentes segmentos da sociedade. Estado, escola, igreja, clubes sociais, mídia precisam se comprometer com a causa. O Dia da Mulher, embora simbólico, precisa se tornar obsoleto, triste memória do passado que virou a página. A expectativa é de que seja breve. O Brasil não pode aguardar a virada do século para chegar lá.
No Brasil, a Constituição é clara. O art. 5º veda toda forma de discriminação. As demais leis não apresentam tendência a tratamento desigual baseado em sexo. Sabe-se, porém, que, apesar da legislação moderna, tratam-se diferentemente as pessoas em razão de pertencerem ao universo masculino ou feminino. A atrasada e persistente distinção tem raízes culturais profundas. No século 21, parte da sociedade ainda olha para os tempos sintetizados pelo padre Antônio Vieira.
"A mulher", escreveu o jesuíta nos anos 1600, "só deve sair de casa três vezes: no batizado, no casamento e no enterro." Mira ainda, talvez saudosa, o longo período em que a mulher era proibida de votar e ser votada, de disputar cargo público ou vaga no mercado de trabalho. Frequentar escola era sonho irrealizável; ler e escrever, privilégio masculino. Os afazeres domésticos, sim, lhe pertenciam. A ela cabia, sobretudo, cuidar da casa, dos filhos e do marido.
O país avançou a passos largos a partir da metade do século passado. Graças aos movimentos libertários que sacudiram o mundo na década de 1960, entre os quais sobressai o feminista, conquistas se multiplicaram. Hoje, a brasileira tem média de escolaridade maior que a do brasileiro. Está amplamente inserida no mercado de trabalho. Dilma Rousseff chefia o Executivo ungida pelo voto popular.
Mas falta muito para alcançar a efetiva igualdade de direitos. Excluído o serviço público que recruta mão de obra por meio de concurso aberto, os salários delas estão aquém dos pagos a eles no desempenho das mesmas funções. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad-2007), mulheres e homens só vão alcançar a equiparação em 2100. Não só. Os dados da violência são alarmantes. Segundo a ONU, uma mulher sofre agressão a cada cinco minutos. O responsável por 70% dos atos de barbárie é gente de casa - marido ou namorado.
Há muitas barreiras a serem derrubadas. Mudar condutas sociais históricas, porém, é processo longo. Exige o empenho dos diferentes segmentos da sociedade. Estado, escola, igreja, clubes sociais, mídia precisam se comprometer com a causa. O Dia da Mulher, embora simbólico, precisa se tornar obsoleto, triste memória do passado que virou a página. A expectativa é de que seja breve. O Brasil não pode aguardar a virada do século para chegar lá.
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