FOLHA DE SP - 03/02
BRASÍLIA - Quem comparar o desempenho de Brasil e Argentina por um prazo mais longo --de 30 anos, por exemplo-- verá que, na média anual, os dois países têm crescimento econômico quase idêntico, nem muito ruim nem muito bom.
Mas médias são enganosas e escondem as diferenças de temperamento entre os dois vizinhos. Os argentinos, nessas três décadas, viveram uma montanha-russa em que picos de prosperidade se alternaram com colapsos e tragédias dignos das grandes depressões. Os brasileiros experimentaram oscilações bem mais suaves e distanciadas; a euforia no Plano Cruzado e a recessão do Plano Collor ficaram para trás.
A Argentina embarcou muito mais radicalmente tanto na onda neoliberal dos anos 90 quanto no novo desenvolvimentismo sul-americano deste século; o Brasil seguiu uma e outro com menos fidelidade e mais pragmatismo, no estilo nacionalmente consagrado pelo PMDB, talvez a verdadeira ideologia do país.
Dilma Rousseff, conscientemente ou não, aparenta ter atingido a quintessência da previsibilidade. A produção e a renda se movem lentamente, a taxas muito parecidas a cada ano, sem turbulências, com desemprego baixo, aparato de seguridade social em expansão e queda vegetativa da pobreza e da miséria.
Esquecidas as promessas de grandeza da primeira campanha eleitoral da presidente, resta ao governo brasileiro e a seus pensadores teorizar sobre as virtudes da temperança e do amparo estatal, ainda mais na comparação com sacrifícios pouco recompensadores do passado. Os índices de popularidade de Dilma sugerem que não é pequeno o apelo dessa mensagem no eleitorado.
A dúvida é por quanto tempo mais a calmaria poderá ser mantida. A finança global e os desequilíbrios domésticos sugerem que um ajuste terá de ser feito em 2015, no primeiro ano do próximo governo. Mas o mercado muitas vezes antecipa a conta.
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