FOLHA DE SP - 03/02
SÃO PAULO - Algumas nações asiáticas fundaram a aceleração econômica na exploração impiedosa de mão de obra abundante e barata. Adiaram o quanto puderam as contrapartidas típicas do Estado de bem-estar, que oferece aos cidadãos sistemas abrangentes de previdência, saúde e seguro trabalhista.
Associada a um esforço de industrialização e conquista de mercado para as exportações, a estratégia de postergar gastos sociais facilitou o acúmulo de substanciosa poupança, seja nas empresas, seja no governo --duas esferas que se confundem no modelo asiático. Os superavit externos também caracterizaram países com Japão, China e Coreia do Sul.
Já o Brasil veio se programando para consumir mais e poupar menos. Mesmo a ditadura militar, que não tinha compromisso nodal com os trabalhadores, acabou por reforçar o velho caminho desenvolvimentista de fiar-se em crédito e investimentos do exterior para catalisar o crescimento doméstico. Morreu pendurada na brocha da dívida e do FMI.
Em meados dos anos 1980, quando a ditadura sucumbiu, havia sido despejado nas cidades um exército de trabalhadores mal remunerados, mal instruídos e mal empregados. Nem passava pela cabeça dos líderes da democracia nascente propugnar por uma guinada "asiática", que adiasse gastos sociais em nome da aceleração do crescimento.
Esse caminho não seria desejável para um país que buscava a estabilização democrática num penoso quadro financeiro global. Ainda quando faltasse pão, firmou-se o compromisso de distribuí-lo sob a forma de gastos assistenciais, trabalhistas, sanitários, educacionais e previdenciários. A escolha deu certo e ajudou a elevar o nível de conforto da população. Mas não foi opção sem custos.
Com a reversão da bonança nos países emergentes, de novo se esvai a ilusão de que rumávamos para o melhor dos dois mundos --crescimento asiático e cuidado social europeu.
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