FOLHA DE SP - 22/02
RIO DE JANEIRO - Martinho da Vila está lançando um disco, "Enredo", em que canta os sambas-enredo que compôs para as duas escolas de sua vida, a Aprendizes da Boca do Mato e a Unidos de Vila Isabel --alguns, só agora gravados. É uma ótima ideia numa indústria, a fonográfica brasileira, que deprime pela falta de imaginação. Pois, aberta a porta, por que não um disco similar com Paulinho da Viola cantando os grandes sambas da Portela, inclusive o seu próprio --e campeão-- "Memórias de um Sargento de Milícias", de 1966?
Outros veios poderiam ser explorados. Levei anos tentando convencer alguma gravadora a reunir em disco João Donato, acordeão; Johnny Alf, piano, e Paulo Moura, clarineta, inspirado num tipo de formação que eles tanto admiravam em 1950, quando estavam no Sinatra-Farney Fan Club. Nenhuma se interessou.
Os americanos eram mestres em combinar dois nomes num disco, geralmente um cantor e um instrumentista --Crosby com Armstrong, Sinatra com Duke, Johnny Hartman com John Coltrane, Helen Merrill com Clifford Brown, Rosemary Clooney com Perez Prado, muitos mais. No Brasil, teria sido formidável acoplar Os Cariocas ao Tamba Trio, mas não foi possível. E por que Tom Jobim e Vinicius de Moraes nunca fizeram um disco juntos? (O ao vivo no Canecão, com Toquinho e Miúcha, não conta).
Mas, se não tivermos pressa, talvez ainda vivamos para ver um disco reunindo João Gilberto e João Donato --quem sabe? Já juntar Leny Andrade ao trombonista Raul de Souza soa tão natural que é incrível ninguém ter pensado nisso ainda. E por que não combinar estilos? Rita Lee com Roberto Menescal. Wanda Sá com Erasmo Carlos. Leila Pinheiro com Marcos Sacramento. Orlandivo com Mart'nália. E os songbooks? Alcione canta Aldir Blanc. Ed Motta canta Marcos Valle.
São só ideias. Para quem quiser.
Nenhum comentário:
Postar um comentário