sábado, fevereiro 22, 2014

Incertezas na Ucrânia - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 22/02
A violência na Ucrânia colocou o governo contra a parede. Depois de 77 mortes entre terça e quarta-feira, grande parte da comunidade internacional reagiu com indignação e horror. Ameaçou impor sanções a Kiev, em retaliação à política opressora. O presidente Viktor Yanukovich recuou, firmou pacto mediado pelos europeus e antecipou as eleições presidenciais.
Deu mostra de que o poder do gabinete não se sustenta ante o poder do clamor popular. O pacto assinado com as lideranças opositoras incluiu a formação de um governo de união nacional e a restauração da Carta Magna assinada em 2004. Uma das mais ferrenhas opositoras a Yanukovich, a ex-premiê Yulia Timoshenko também teve a libertação aprovada pelo parlamento, quatro anos antes da conclusão da pena à qual foi condenada por abuso de poder.

As imagens da Praça Maidan, em Kiev, lembraram sangrentas batalhas medievais. O governo de Yanukovich e partidários de uma associação da Ucrânia à União Europeia entraram em confronto aberto, ainda que a força usada pelos Berkuts - a tropa de choque do regime - tenha sido desproporcional. Franco-atiradores com fuzis AK-47 dispararam do alto de prédios, enquanto ativistas ardiam em chamas nas barricadas. O pior massacre no país desde a dissolução da União Soviética é a comprovação de que o diálogo precisa ser a única via para resolver diferenças políticas. Até então, Yanukovich se negava a atender os anseios da oposição.

É cedo para deduzir que o pior da crise tenha passado. Promessas feitas por Yanukovich têm se mostrado frágeis. A trégua, assinada na noite de terça-feira, fracassou depois de poucas horas e deu início ao banho de sangue. Algumas facções da oposição ainda defendem que a única saída para o impasse é a destituição imediata do governo. Se os termos do pacto vigente não forem cumpridos, o país pode entrar no caminho da confrontação e de levante civil capaz de levar a economia ao colapso. As próximas horas serão sensíveis. Urge à comunidade internacional fiscalizar o processo e garantir que a Ucrânia retorne ao caminho da democracia e da tolerância. Em caso de mais repressão, fazer valer os mecanismos de sanções.

Cabe à Rússia respeitar a soberania da Ucrânia e evitar influenciar a política interna. Moscou convenceu Yanukovich a declinar a associação à União Europeia para assinar acordo de US$ 15 bilhões com os russos. Para analistas, o Kremlin visa controlar Kiev, a fim de solidificar o controle autoritário do presidente Vladimir Putin e reviver novo império na Eurásia. Ante a crise sem precedentes desde 1991, o governo brasileiro instou Yanukovich e a oposição ao diálogo, mas defendeu certo distanciamento ao afirmar que a situação deve ser equacionada pelos próprios ucranianos "de forma pacífica e com base no respeito às instituições e aos direitos humanos".

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