sábado, fevereiro 22, 2014

O tempo e o vento - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 22/02

Este ano a economia está muito dependurada no clima. As projeções fiscais, de inflação, balança comercial e investimento dependem do que vai acontecer principalmente no Sudeste. E é justamente no Sudeste que os modelos do Inpe estão com mais baixa previsibilidade. O professor José Marengo explicou que as revisões dos dados estão acontecendo semanalmente.

Os modelos conseguem dizer que no norte de Roraima, Amazonas e Pará vai continuar a chover muito acima da média nos próximos três meses. No Nordeste, vai chover bem abaixo do normal. Mas a previsibilidade do Sudeste e Centro-Oeste está baixa, e isso atinge a segurança energética e de produção de alimentos. Afeta, enfim, toda a economia. Comparando dois anos difíceis - 2001 e 2014 -, Marengo diz o seguinte:

- Em termos de recordes de temperatura elevada no Sudeste e Sul, 2014 é pior. Em escassez de chuva, a comparação de janeiro e fevereiro mostra que 2001 foi pior. Mas, naquele ano, choveu muito em maio e aliviou um pouco a crise energética. Nós não sabemos se vai se repetir o fenômeno e chover em maio, que não é uma época normalmente de muita chuva. Tudo está mudando e por isso temos reuniões semanais para avaliar o que vai acontecer. Este ano, no mundo inteiro, há eventos extremos.

Ele diz que acha curiosas as previsões da Conab de recorde de safra porque exatamente nas áreas produtoras mais importantes do país é que a previsibilidade do clima é mais baixa. Pode até haver um recorde de plantio, mas, com o tempo severo, é difícil estimar a safra que será colhida.

Do volume da colheita, dependem o grupo alimentação na inflação e o desempenho da balança comercial, que tem relação direta com os preços e o volume de grãos. A economia cada vez mais depende dos cenários traçados pelos climatólogos e eles estão dizendo que tudo fica cada vez mais imprevisível.

- A maior dificuldade de previsões está em áreas-chave do país. Mesmo quando choveu agora, neste fim de fevereiro, as precipitações não caíram na Serra da Cantareira como era desejável, mas em áreas urbanas - lembra Marengo.

O climatologista conta o que houve este ano:

- Uma alta pressão atmosférica atuou como uma bolha sobre o Sudeste, impedindo que as frentes frias chegassem até aqui e se transformassem em chuva. Mas a chuva bloqueada no Sudeste caiu sobre o oceano. Foi assim durante todo o mês de janeiro e metade de fevereiro. Quando as chuvas começaram, não caíram sobre as áreas que o país precisava. O máximo de chuva acontece entre dezembro e janeiro. Em março e abril, normalmente, não chove tanto. Este ano, o máximo de chuva aconteceu em dezembro e tivemos janeiro e fevereiro anormalmente secos.

As chuvas que caem sobre o Sudeste vêm das frentes frias ou se formam na Amazônia e encontram no Pantanal parte da umidade.

- As águas vêm da Amazônia e arrastam a água evaporada do pantanal. E vêm também das frentes frias. O bloqueio atmosférico impediu que as chuvas caíssem. O fenômeno de um ano não pode ser atribuído à mudança climática, mas o aquecimento global provoca isso. A temperatura dos oceanos tem mudado muito e isso afeta a direção dos ventos. O inverno do ano passado teve extremos de temperatura no Sul e agora temos extremos de calor. O Nordeste está em seca desde 2011. Eu não posso dizer que pegamos sarampo, mas posso afirmar que estamos com vários sintomas de sarampo. Assim, o que eu posso dizer é que não precisamos esperar 2050, já temos exemplos que nos alertam que precisamos nos preparar para as mudanças do clima - diz o climatologista.


2 comentários:

Anônimo disse...

Pelo amor de Deus ! "baixa previsibilidade" NÃO QUER DIZER "previsão de pouco chuva"!!! Quer dizer que não se pode prever. Pq confundir tudo usando esta expressão ? Soa ignorância.

Anônimo disse...

Pelo amor de Deus ! "baixa previsibilidade" NÃO QUER DIZER "previsão de pouco chuva"!!! Quer dizer que não se pode prever. Pq confundir tudo usando esta expressão ? Soa ignorância.