FOLHA DE SP - 22/02
SÃO PAULO - Foi só os termos de troca da economia internacional ficarem um pouco menos favoráveis à América Latina para os problemas ganharem visibilidade. A Argentina vive uma situação particularmente grave. A da Venezuela é ainda pior. É difícil imaginar uma saída não traumática para a enrascada em que se meteram. Em outros países do continente, Brasil incluso, o cenário não é tão ruim, mas está muito longe de ser confortável.
É claro que não dá para culpar apenas a mudança de ares na economia. No caso da Argentina, ela só agravou anos e anos de erros cometidos por seus governantes.
O que me levou a escrever esta coluna, porém, não foi a economia, mas a educação. Os equívocos perpetrados pelos Kirchner e seus antecessores são fichinha perto do que está ocorrendo com o ensino na Argentina. É aí que está o verdadeiro abismo.
No último Pisa, o exame internacional que compara o desempenho de alunos de 15 anos, ela conseguiu resultados piores do que os do Brasil em matemática e leitura. Só venceu, e por muito pouco, em ciência. Na primeira edição do teste, realizada em 1999, os alunos argentinos ainda tinham uma razoável folga sobre os brasileiros. Detalhe importante: nós não os ultrapassamos porque melhoramos significativamente. Eles é que foram ficando para trás, não só do Brasil como de quase todos os países que participam do exame.
A comparação fica ainda mais escandalosa quando alargamos o horizonte de tempo. Até os anos 60, a educação da Argentina era provavelmente a melhor do continente e não fazia feio diante da de nações desenvolvidas. O país conseguiu angariar três Prêmios Nobel científicos e foi um dos primeiros a reduzir o índice de analfabetismo para baixo dos 10%, ainda nos anos 50.
O grave aqui é que estão dilapidando aquilo que o país tem de mais valioso, que é a capacidade de adaptar-se e reinventar-se.
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