O Estado de S.Paulo - 26/01
O Brasil não é a Argentina, mas não dá para afirmar que as contas externas estejam em bom estado. Os números de 2013 divulgados sexta-feira pelo Banco Central (BC) apontam para o contrário.
O rombo em Transações Correntes, conta que engloba a balança comercial e de serviços mais as transferências (exclui o movimento de capitais), atingiu US$ 81,4 bilhões, ou 3,7% do PIB, 50% superior ao déficit de 2012. Desde 2001 não foi tão grande.
É mais do que apontavam as projeções mais recentes e substancialmente mais do que os US$ 65 bilhões (2,7% do PIB) que o BC projetara para o ano em janeiro de 2013.
Até o ano passado, a entrada de investimentos externos de longo prazo (Investimentos Estrangeiros Diretos - IEDs) cobria com folga o saldo negativo. Isso já não acontece mais.
O foco de mau desempenho é a balança comercial (exportações e importações), com superávit de apenas US$ 2,6 bilhões e, ainda assim, produzido por "exportações fictícias" de sete plataformas de petróleo que não saíram do País.
O forte déficit externo é, acima de tudo, resultado da atual política econômica que privilegiou o consumo e forçou as importações. Apenas a conta petróleo apontou saldo negativo de US$ 20,2 bilhões, que é o volume líquido de combustíveis importados. Do ponto de vista macroeconômico, isso corresponde a aumento da dependência da poupança externa, num momento em que os grandes bancos centrais começam a enxugar os mercados de moeda global.
O Brasil tem bom volume de reservas externas, de US$ 375 bilhões, correspondentes a mais de um ano de importações. Podem ser usadas para cobertura de contas externas. São uma boa linha de defesa contra a evasão de moeda estrangeira. Mas, se o rombo externo não for revertido, podem ser pressionadas. Em 2014 não haverá as receitas em dólares com outro leilão de Libra.
Talvez seja um pouco cedo para admitir que as contas com o resto do mundo sigam se deteriorando. O BC aposta em direção contrária. Admite para 2014 um déficit em Transações Correntes mais baixo, de US$ 78 bilhões (3,5% do PIB), mas ainda excessivamente elevado.
As projeções do BC nessa área não são lá muito confiáveis. Em janeiro de 2013, por exemplo, previa um estouro só de US$ 65 bilhões. Errou por 25%. Se fosse chute a gol, a bola teria saído pela linha de fundo a mais de 7 metros da trave.
O governo confia em que a desvalorização cambial (alta do dólar) ajudará as exportações e conterá as importações. Dada a qualidade das contas externas, parecem inevitáveis novas esticadas dos preços da moeda estrangeira, com o impacto também inevitável sobre a inflação. Mas não dá para confiar muito na contenção do déficit comercial. As exportações de manufaturados não acontecem por atraso cambial, mas por falta de competitividade da indústria. E as importações de combustíveis, por onde há o principal vazamento comercial, não serão contidas enquanto os preços internos continuarem sendo represados pelo governo, como constou quinta-feira na própria Ata do Copom. As contas externas emitem sinal de alerta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário