O GLOBO - 20/12
Se bolsa de valores é um termômetro para medir o ânimo dos investidores, o cenário para o Brasil é incerto. O Ibovespa acumula queda de 15% desde janeiro. Caiu de 60 mil pontos para 51 mil. Ao longo de 12 meses, houve redução em pontos e volume. Quem fugiu da bolsa e apostou em índices pós-fixados de juros, que subiram pelo aumento da inflação, teve um rendimento maior.
O ano na bolsa foi marcado pelas quebras de empresas do grupo de Eike Batista, que tinham muito peso sobre o índice, e pelos prejuízos bilionários sofridos pela Petro-bras com o congelamento do preço do diesel e da gasolina. A OGX, principal empresa do grupo X, entrou em recuperação judicial, e as ações PN da Petrobras caíram 10% enquanto as ON despencaram 18%.
O Grupo X pesou muito sobre o Ibovespa. Petrobras e Vale também não foram bem. As empresas do segmento imobiliário caem 26% pelo índice Imob. Pelo lado positivo, as siderúrgicas surpreenderam, e as empresas do setor financeiro estão subindo 1,4%, de acordo com o índice IFNC — explicou o analista-chefe da XP Investimentos, William Castro Alves.
O trauma causado no setor de energia no ano passado continua. O índice IEE, voltado para empresas do setor energético, tem queda de 8% no ano. Muitos investidores estrangeiros e pessoas físicas no Brasil perderam dinheiro com a mudança a toque de caixa no marco regulatório e desistiram da bolsa.
— A média diária de volume de negócios no Ibovespa está praticamente estagnada este ano. A bolsa não tem criado novos negócios, o que estamos vivendo é um mercado de trincheira: o investidor arrisca um setor, uma empresa, mas logo volta a se proteger. É como aquela brincadeira de "rouba montinho" — explicou o economista Álvaro Bandeira, da Órama Investimentos.
O contraste com outras bolsas do mundo revela mais da situação do Brasil. Enquanto o Ibovespa cai, nos EUA, os três principais índices bateram recordes ao longo do ano. O Dow Jones tem alta, no ano, de 26%; o S&P 500 subiu 29%; e o Nasdaq disparou 36%. No Japão, o índice Nikkei teve valorização de 54%. Até mesmo na Europa houve aumento forte em vários países, como na Alemanha, 22%; Grécia, com valorização de 28%; Espanha, com 24%; e Irlanda, 33%. Já outros países emergentes da América Latina estão com taxas negativas. Ainda assim, o Brasil cai mais que Chile e Colômbia (vejam no gráfico) e México, que tem pequena queda de 2% no ano.
O investidor que no início do ano desconfiou da promessa do Banco Central de-levar a inflação para a meta teve bons resultados. Esse apostou na alta dos juros e em contratos com taxas pós-fixadas. Ao mesmo tempo, pelo efeito contrário, quem acreditou na promessa de inflação na meta e juros baixos perdeu dinheiro em aplicações pré-fixadas. O dólar também teve forte valorização, com alta de 15% acumulada no ano. Mas, no final das contas, não foi um ano bom para o pequeno investidor.
As estimativas do Boletim Focus e a fraqueza da Bovespa são sinais de que a confiança na economia brasileira continua fraca. Será necessário um esforço maior para mudar o quadro.
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