O Estado de S.Paulo - 17/12
Durante as festas de fim de ano, o comércio sempre contrata um grande número de pessoas para trabalhar temporariamente. Neste ano, porém, a contratação está mais difícil. Há mais vagas do que candidatos. O que pode explicar esse fenômeno?
Em primeiro lugar, há que se considerar que pouca gente está desempregada. A taxa de desemprego está em torno de 5%. Ou seja, 95% dos brasileiros que desejam trabalhar estão trabalhando. São poucas as pessoas disponíveis para ajudar as lojas nestas festas.
Em segundo lugar, lembro que no Brasil vem crescendo aceleradamente a população não economicamente ativa. São pessoas que, apesar de estarem na idade de trabalhar, não querem trabalhar. Muitos jovens estão ficando mais tempo na escola (o que é bom) e retardando a entrada no mercado de trabalho. Os idosos com mais de 60 anos, igualmente, estão parando de trabalhar atraídos por melhor aposentadoria e pelos programas sociais - Bolsa Família e outros. Nos últimos 12 meses, a parcela dos que não querem trabalhar cresceu 3,5%. Só em outubro, 650 mil pessoas se retiraram do mercado de trabalho. Não podemos esquecer também de que a população brasileira está crescendo mais devagar, o que faz diminuir ainda mais a proporção dos que podem trabalhar, inclusive nas festas natalinas.
Em terceiro lugar, há que se considerar que o aumento da massa salarial e a elevação do padrão de consumo "convidam" muitas pessoas a trocar o trabalho por lazer. Ofereço um exemplo: a demanda por viagens aéreas em outubro subiu mais de 4% em relação ao ano anterior e deve subir ainda mais até o fim das férias escolares. Para essas pessoas, não há como convencê-las a trabalhar nas horas em que todos se divertem.
Finalmente, devo mencionar que a elevação da renda familiar dos últimos tempos deve ter reduzido o interesse ou a necessidade de rapazes e moças aceitarem empregos temporários no comércio e nos serviços. As famílias não necessitam do seu auxílio como necessitavam antigamente.
Conclusão: o mercado de trabalho no Brasil continua apertado. É verdade que a geração de empregos está desacelerando. Mas a quantidade de pessoas dispostas a trabalhar diminuiu muito. A taxa de participação no mercado de trabalho é de apenas 57% - nos países avançados ultrapassa os 70%.
Para as empresas sobra a dificuldade para recrutar funcionários - não apenas engenheiros, técnicos e especialistas, mas também pessoas menos qualificadas. Nos dias atuais, a lavoura de café se queixa de falta de braços para a colheita; os construtores ressentem a escassez de serventes de pedreiro; e as empresas de conservação e limpeza não conseguem contratar faxineiras. Aliás, as próprias donas de casa sabem o quanto está difícil conseguir uma empregada doméstica.
Já foi o tempo em que o Brasil era um país de mão de obra abundante e barata. Hoje, o trabalho é escasso e caro. Está se esgotando a passos largos o crescimento que durante décadas se baseou na adição de mais e mais trabalho no sistema produtivo. Daqui em diante, o Brasil terá de elevar substancialmente a eficiência das pessoas. Os salários e os benefícios não podem continuar descasados da produtividade. Os números são alarmantes: entre 1999 e 2011 os salários médios em termos nominais cresceram 9% ao ano (incluindo o salário mínimo), enquanto o crescimento da produtividade ficou em 0,6% ao ano. No mesmo período, a produtividade da China cresceu 8,2% ao ano. É uma diferença brutal. Mesmo com os salários chineses subindo, como estão hoje, o alto nível de produtividade garante àquele país uma competitividade invejável - o contrário do que ocorre no Brasil. Esse quadro precisa virar nos próximos anos. A melhoria da qualidade da educação é uma providência crucial. Os investimentos em infraestrutura, pesquisa e inovação vêm logo atrás. E isso não é programa para um mandato, e, sim, para duas gerações.
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