O Estado de S.Paulo - 17/12
Discutimos faz anos o formato de financiamento de campanhas eleitorais. O debate concentra-se em duas questões: exclusivamente público ou também privado? Se a opção for pelo segundo formato, o dinheiro deve vir apenas de pessoas físicas ou também de agentes jurídicos? Nesse debate deixamos de considerar um aspecto mais amplo do recurso público na realidade dos partidos. Isso explicaria por que a chegada ao poder é tão importante para as legendas. O principal prêmio é a Presidência da República, a maior distribuidora de recursos e, principalmente, a grande empregadora das máquinas partidárias. Nesse cenário existe um núcleo composto por Estados fortes, capazes de manter tais estruturas, onde São Paulo é elemento central. A partir daqui entendemos a relação conflituosa entre partidos em busca de um poder associado à sobrevivência organizacional.
A relação entre PT e PFL-DEM serve de exemplo. Em cartilha de 2004 o PT proibia alianças com o adversário. A resposta dos liberais veio em resoluções publicadas em Diário Oficial com igual conteúdo. O choro da então ministra Dilma Rousseff diante do senador Agripino Maia (RN) em 2008 e a ida de Lula a Natal nas eleições daquele ano - a única cidade fora de São Paulo onde ele se empenhou em comícios - são mais um round desse conflito. Em 2010 a aliança entre as duas legendas no Maranhão foi só um passo fora da linha, somado às mais de mil cidades em que ambos disputaram eleições coligados em 2012 - esse é o jogo, por vezes descentralizado e pouco institucionalizado, das legendas. Assim, voltando à saga, em 2011 a criação do PSD, que começou por São Paulo, contou com atuação marcante do Executivo federal e sugeriu a vitória do PT sobre o desnorteado DEM. Um bando governista migrou para a legenda de Gilberto Kassab, que ganhou ministério e já garantiu apoio a Dilma em 2014. O DEM respira com dificuldade.
Diante da investida sobre um dos principais grupos de oposição federal, o PT também planeja enfraquecer o PSDB. Nesse caso, porém, de forma distinta. Na última eleição a candidatura de Dilma custou caro aos petistas nos Estados. Foi necessário lançar o menor número de candidatos a governador de sua história recente para angariar apoios à manutenção do Planalto. Assim, o que faz com que, de maneira aparentemente desorganizada, pouco incisiva e frágil, ainda exista oposição no País? Respostas estão associadas ao controle dos tais Estados fortes: máquinas públicas robustas capazes de empregar filiados, expressiva quantidade de municípios, orçamentos volumosos, acesso aos financiadores de peso, autonomia para realizar políticas públicas e tempo no poder. É o caso de São Paulo.
Para enfraquecer o PSDB o PT sabe que precisa vencer, de preferência com candidatura própria, a eleição paulista. O ninho tucano foi construído aqui desde o fim da década de 1980. O partido nunca lançou candidato à Presidência com carreira fora do Estado - Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Geraldo Alckmin. Aécio Neves, aliás, é visto com desconfiança por tucanos bandeirantes que se pautam em estudos que associam o voto para governador ao ofertado antes para a Presidência. O neto de Tancredo não seria, dessa forma, capaz de agregar votos à reeleição de Alckmin?
A estratégia petista poderia investir nessa hipótese, somada a um governo envolto no escândalo dos trilhos, nas dificuldades com algumas políticas e na falta de uma grande marca de mandato. Assim, o ministro Alexandre Padilha tem aparecido muito. Busca firmar-se como gestor da saúde, arrefecendo característica utilizada pelos tucanos nas campanhas de José Serra. Tem viajado demais para o Estado, e pelo Estado, e estrelou campanha partidária falando das glórias petistas com ênfase no território paulista. Segue a trajetória do perfil que agradaria à classe média e se apresenta como novidade, algo que Lula entende ser necessário para vencer a resistência paulista ao número 13. Seria parte de uma estratégia que tem Fernando Haddad e Márcio Pochmann como agentes nas eleições de 2012 em eleitorados como os da capital e de Campinas. Para completar, o PT busca um empresário para ser o vice de Padilha, repetindo a lógica da aliança com o PL em 2002.
Mas, e o PSDB? Geraldo Alckmin é pré-candidato à reeleição e desponta como favorito nas pesquisas. Seu nome no interior tem força proporcional à resistência ao PT em parte do Estado, apesar das ameaças de um PMDB reforçado pela máquina da Fiesp nas mãos de Paulo Skaf. As costuras partidárias tucanas têm angariado apoios apalavrados de diversas legendas. As respostas no campo da saúde foram rápidas: David Uip como secretário aliou potencial e publicidade. As propagandas do governo do Estado na TV têm enfatizado a pasta. Ademais, o PSDB está no poder faz quase duas décadas. E isso lhe dá força política com a alocação de militantes e figuras estratégicas na máquina pública. Milhares de filiados estão empregados, com destaque para ex-prefeitos - chefes políticos locais que se mantêm vivos e fortalecem o governo. Isso sustenta um partido quando somado à capacidade de angariar recursos para campanhas na relação estratégica com empresas. Além disso, a força do governador tem peso nas eleições municipais, sobretudo num Estado rico e capaz de distribuir recursos e implantar políticas públicas.
Os tucanos governam mais de 25% das cidades do Estado faz anos: mais poder. Essa força toda está associada ao Palácio dos Bandeirantes e perdê-lo pode marcar o desejo do PT de desmontar a oposição. Se o DEM sofreu de um modo, o PSDB sofreria de outro. A vida partidária é assim: estratégias e riscos.
Já calculou se os petistas perdem o pleito nacional no ano que vem, disputando número reduzido de governos estaduais? Só São Paulo o salvaria, a exemplo do que faz pelo PSDB.
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