CORREIO BRAZILIENSE - 17/12
ABS e airbag são itens obrigatórios nos carros fabricados no mundo desenvolvido. Em abril de 2009 o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) editou a Resolução nº 312, tornando obrigatórios esses equipamentos em todos os carros fabricados no Brasil a partir de 2014. São itens de segurança muito eficientes.
O ABS (Anti-lock Braking System) é um sistema de frenagem que evita o bloqueio das rodas e a derrapagem do veículo quando o freio é acionado fortemente. Disponível desde 1978, diminui o risco de colisão, pois encurta a distância de frenagem.
O airbag é uma bolsa de ar que se infla quando ocorre uma colisão. É uma tecnologia que equipa carros desde os anos 1980. Nos Estados Unidos, salvou mais de 30 mil vidas nos últimos 20 anos. O airbag é um equipamento de segurança passiva, porque limita os danos em caso de colisões, enquanto o ABS é de segurança ativa, porque evita colisões.
O Brasil demorou a adotar medidas para equipar os veículos com esses itens de segurança. Nossos carros são "carroças", no dizer de um ex-presidente. Pior: são perigosíssimos. Para um mesmo nível de impacto, os carros brasileiros são quatro vezes mais letais que os americanos.
Além de ainda fabricar alguns carros com segurança precária, temos uma espécie de "passivo" - a imensa frota de veículos velhos, sem manutenção e da época em que carros seguros era um luxo para poucos. A inspeção de segurança veicular, prevista no Código de Trânsito Brasileiro de 1997, poderia retirar das ruas os veículos perigosos, mas até hoje esse artigo da lei não saiu do papel.
Nos últimos 10 anos, a mortalidade no trânsito tem diminuído em quase todo o mundo. Nos Estados Unidos decresceu 40%; na Espanha, 60%. Os governos desses países adotaram programas de segurança de trânsito para proteger a vida dos cidadãos. Na contramão, nesse mesmo período, o número de mortes de brasileiros aumentou 50%, consequência evidente da negligência governamental. A morte de 50 mil brasileiros e a conta de 1 milhão de feridos anualmente parecem não sensibilizar as autoridades.
Com o adiamento da obrigação das montadoras de equipar os carros com airbags frontais e ABS, o governo piora ainda mais a segurança no trânsito. Observando exclusivamente o lado econômico e sem consultar o Conselho Nacional de Trânsito, o ministro da Fazenda disse estar "preocupado com o impacto sobre os preços dos carros, porque isso eleva o valor deles entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil".
Se não estivesse com a visão turva pela proximidade de eleições, pelos índices de inflação e pelo superavit primário, talvez o ministro entendesse que o custo da insegurança é muito maior que o da segurança. O país gasta anualmente R$ 40 bilhões com vítimas de trânsito, seja em custos hospitalares, em previdência social seja para enterrar os mortos. Em uma conta simples, a cada real investido na prevenção de desastres de trânsito, economizam-se 10 em hospitais, previdência social, prejuízos com perda de produção. Mas, se isso é exigir demais, o que dizer de argumentos que envolvem vidas, lesões irreversíveis e a dor de famílias?
O argumento de preservação de empregos ou impacto econômico nas montadoras tampouco se sustenta. O lucro dos fabricantes de automóveis no Brasil é de 10%, contra 3% nos Estados Unidos ou 5% como média mundial. Os 4 mil empregos que seriam perdidos, segundo cálculos do ministro, facilmente seriam compensados nos setores beneficiados com a inovação. Se confrontados com os benefícios de vidas poupadas, lesões mitigadas e diminuição dos custos dos desastres automobilísticos, a argumentação econômica do governo cai por terra definitivamente.
As montadoras tiveram tempo suficiente para se preparar. Não podem continuar fabricando carros rudimentares e obsoletos, como se a vida dos brasileiros valesse menos que a de norte-americanos ou europeus. O governo não pode continuar negligenciando a segurança no trânsito em nome de interesses econômicos. A julgar pelas declarações infelizes do ministro Guido Mantega, os arautos do atraso podem ganhar uma vez mais. É de matar!
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