O Estado de S.Paulo - 21/12
No nosso passado recente os países eram classificados como desenvolvidos, em desenvolvimento e subdesenvolvidos. Nações mais pobres, como o Brasil, por exemplo, levavam o título de subdesenvolvidas ou em desenvolvimento, dependendo da ideologia política de quem estava versando sobre a realidade em questão. Pois bem, desde o início dos anos 2000 aquelas classificações foram sendo deixadas de lado, substituídas por desenvolvidos, emergentes e não emergentes. O Brasil, na época, passou a integrar o Bric, sigla formada pelas letras iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China, criada em 2001 por Jim O'Neill, economista do grupo Goldman Sachs. Em seu estudo, ele chegou à conclusão de que esses quatro países eram os emergentes, pois se destacariam em termos de crescimento econômico nos próximos 50 anos, podendo ocupar o topo no ranking das maiores economias do mundo.
Entretanto, Jim O'Neill deixou de lado essa classificação de emergentes para os quatro países em 2011. O economista passou a classificá-los como "mercados de crescimento", estando nesta categoria, também, México, Indonésia e Turquia, embora esses, segundo O'Neill, estejam longe do Bric em termos de importância econômica. Agora eles são denominados como Mint, com a inclusão da Nigéria.
O fato é que essa tese de que somos emergentes pegou, permanecendo nos discursos de nossos governantes e nas manifestações da nossa diplomacia. A ideia, a meu ver fantasiosa, de sermos um país emergente se popularizou e o Brasil vestiu e se acostumou com a fantasia. Consideramo-nos emergentes e pertencemos ao Brics, pois estamos sendo aculturados assim desde o início dos anos 2000.
Cito algumas da várias características que marcam um país emergente: mão de obra em grande quantidade e em processo de qualificação; níveis de produção e exportação em crescimento; investimentos em setores de infraestrutura (estradas, ferrovias, portos, aeroportos, usinas hidrelétricas, etc); Produto Interno Bruto (PIB) em crescimento; diminuição, embora lenta, das desigualdades sociais; rápido acesso da população aos sistemas de comunicação (inclusão digital); mercados de capitais (Bolsas de Valores) recebendo grandes investimentos estrangeiros; e investimentos de empresas estrangeiras nos diversos setores da economia. Ora, o leitor há de convir que nesses quesitos o Brasil está deixando muito a desejar.
Jim O'Neill, que parece acreditar, e muito, no Brasil, assinalou agora em 2013 que o País precisa melhorar em volume de investimentos privados e se tornar mais aberto ao resto do mundo. O economista está coberto de razão. Porém, precisamos evoluir em várias outras coisas: redução do gigantismo estatal, racionalização da nossa burocracia, investimento na infraestrutura, adequação do sistema tributário, flexibilização da legislação trabalhista, reforma no sistema educacional. Nenhuma nação se torna poderosa economicamente com uma educação precária, uma força de trabalho preponderantemente desqualificada, uma tecnologia medíocre e uma indústria claudicando. E essa não é a cara do Brasil?
Enxerga-se o País como emergente porque sua face está acobertada por um longo manto. Aliás, o Brasil como um todo não tem uma única cara. Nem sabemos qual é o seu real rosto. Somos ignorantes sobre quem somos, pois com o corporativismo que reina na Nação, como mostra o professor Oliveiros S. Ferreira, em instigante artigo neste jornal (16/11), há tempos perdemos nossa identidade nacional. Onde está o Brasil nesses vários "Brasis"?, sabiamente pergunta o mestre.
Temos condições, sim, para um dia sermos poderosos economicamente, mas esse potencial hoje está muito longe de ser bem utilizado. Ele exige muito trabalho, visão de longo prazo e até sacrifícios. E isso não dá voto. Assim, vamos vivendo sob a farsa do populismo econômico. Brasil, mostra a tua face de subemergente. Quiçá aí tomamos vergonha na cara para sair dessa, em vez de nos acomodarmos numa máscara de ilusão.
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