FOLHA DE SP - 21/12
BRASÍLIA - Estudei jornalismo na Inglaterra nos anos 80 e me assustei com uma das disciplinas: taquigrafia. É que ao pedir emprego, os repórteres ingleses precisavam colocar no currículo quantas palavras conseguiam anotar por minuto.
Não sei como é hoje, mas à época era proibido qualquer tipo de gravação em certos lugares públicos na Inglaterra. Na Câmara dos Lordes, nem pensar. O jornalista se virava rabiscando o máximo que conseguia no menor tempo possível.
Fracassei em "shorthand" (taquigrafia, em inglês). Não enxerguei uso na técnica. Preferi ficar com o meu sistema próprio de garatujas que só eu entendo. Além disso, embora muito mais atrasado do que a Inglaterra, o Brasil já não tinha a péssima tradição de proibir repórteres de usar gravadores no Congresso e em vários locais públicos. Bastava gravar.
Esse é um bom costume. Há por aqui o registro eletrônico de sessões do Congresso, de falas presidenciais e de sessões do Poder Judiciário.
É evidente que juízes estranharam e ainda se incomodam com a TV Justiça. Mas é um avanço institucional enorme permitir aos cidadãos de todo o país ter acesso a julgamentos, ao vivo e em cores. Há um valor pedagógico em disseminar na sociedade como se dá a prática do direito.
Só que agora um deputado do PT acaba de apresentar um projeto de lei propondo o fim das transmissões das sessões do STF. O objetivo é evitar a exposição das "entranhas da Justiça" que são "mostradas com sensacionalismo exacerbado por parte de alguns ministros em particular".
Regressiva e inconstitucional (com um Poder interferindo em outro), a proposta talvez não devesse ser assunto aqui. Como no Brasil há às vezes raios em céu azul, é melhor registrar para que, se o retrocesso vier, ninguém possa alegar ter sido apanhado de surpresa. E fica outra vez confirmado o triste axioma da democracia local: toda vez que um deputado tem uma ideia o Brasil piora.
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