O Estado de S.Paulo - 24/12
Além da eliminação de fronteiras na circulação dos fluxos financeiros e da multiplicação de rotas dos fluxos comerciais, a economia contemporânea se caracteriza pela circulação cada vez mais livre, maciça e veloz dos fluxos de informação. Sucessivas revoluções logísticas e nas comunicações dão suporte a novos e transformadores modos de relacionamento econômico e social.
A disseminação e o aprofundamento dos fluxos de informação potencializaram o peso da formação das expectativas na formulação e condução de políticas econômicas. Com base na circulação desimpedida e detalhada de dados, os agentes econômicos antecipam decisões de governos e precificam com antecedência os impactos nos ativos de medidas que ainda não foram tomadas.
Foi exatamente nesse campo da formação das expectativas que, na área econômica, o governo da presidente Dilma Rousseff mais tropeçou em 2013. Disputou várias batalhas e perdeu quase todas por falhas às vezes gritantes de comunicação.
Quando se analisar, mais à frente, os sobressaltos e as idas e vindas na economia, em 2013, o modo desastrado como a presidente e sua equipe econômica tentaram conduzir as expectativas tem tudo para aparecer como origem importante dos resultados insatisfatórios alcançados na maior parte dos grandes departamentos da economia.
O problema maior não residiu apenas na insistência em bancar projeções e políticas claramente demolidas pela realidade. Martelar que a economia cresceria 4% quando já eram nítidas as dificuldades, principalmente na indústria, para chegar até mesmo aos 3%, ou reforçar estímulos ao consumo e, sobretudo, à venda de veículos, no momento em que as grandes cidades explodiam em manifestações de rua diante do colapso da mobilidade urbana ajudou muito na formação do descrédito no qual caiu o discurso oficial. Mas não foi aí que a coisa de fato pegou.
O que se revelou muito mais eficaz para rebaixar a credibilidade dos condutores da política econômica foi apelar para a "administração" dos índices econômicos, distorcendo resultados, na tentativa de ganhar no grito a batalha das expectativas. A prática conseguiu a proeza de produzir um duplo efeito negativo: aumentou a desconfiança na ação do governo e levou os analistas a criar filtros para interpretar indicadores não mais transparentes ou substituí-los por outros - caso da dívida líquida do setor público, que cedeu o posto de índice referencial de solvência da economia para a dívida bruta.
Quando se observa o cenário da conjuntura econômica em que a estratégia do governo teve curso, menos se consegue entender o que o teria levado a adotá-la. Apesar da insistência da equipe econômica nos estímulos ao consumo, ganhou consenso, ao longo do ano, a ideia de que os gargalos ao crescimento se localizavam, prioritariamente, no lado da oferta - ou seja, a abertura de novos espaços ao crescimento passara a depender, de forma crucial, dos investimentos.
São vários os elementos propulsionadores dos investimentos e sobre alguns deles não há concordâncias tácitas entre os economistas. Mas não haverá uma única voz dissonante da convicção de que, sem expectativas positivas e confiança no futuro da economia, o investimento será capaz de deslanchar.
Há poucos dias, no encontro de fim de ano com jornalistas, a presidente Dilma defendeu a ideia de que os governantes devem seguir como norma cultivar visão otimista e criticou os que sempre enxergam os resultados alcançados pelo governo como um copo meio vazio. Ela tem razão - nos dois casos. Só não pode, sob o risco de perda de credibilidade e da disseminação da desconfiança, brigar com a realidade. Os votos para o novo ano são de que, como têm demonstrado em alguns episódios mais recentes, a presidente e sua equipe econômica tenham, mesmo sem confessar, aprendido a lição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário