O GLOBO - 22/11
Aumento do fluxo de pessoas na orla é fenômeno previsível; poder público precisa ter política permanente para garantir a tranquilidade nesta época de praias cheias
O fim de semana prolongado pelo feriado de 15 de novembro, de previsível aumento do fluxo de cariocas e turistas nas praias do Rio, foi marcado por lamentáveis cenas de arrastões, promovidas por bandos organizados para semear insegurança pela cidade. Anteontem, um feriado do Dia da Consciência Negra temperado por um sol típico de verão — portanto, de imaginável incremento do movimento de pessoas na orla —, repetiu-se o cenário de baderna, novamente com grupos de marginais protagonizando assaltos, roubos e agressões nas areias da Zona Sul.
Arrastões em série no intervalo de poucos dias são evidência de que a violência que invade as praias não é um fenômeno isolado. Este é o dado inescapável com o qual devem trabalhar as autoridades da área de segurança do estado. A maneira como os bandidos agem — dividindo-se em grupos, atacando banhistas que se encaixem no perfil mais apropriado, obedecendo (ou não) a algum tipo de comando — é sinal inquestionável de que o movimento não é espontâneo.
Combatê-lo implica não só reprimir os focos de agressão quando estes alcancem a areia, mas também adotar um protocolo que, ao menos nestas primeiras ondas de arrastões, não parece ter sido colocado em prática pela polícia. Nele, é fundamental o recurso a ações de prevenção (aumentando a vigilância no entorno das praias, onde as quadrilhas se reúnem antes de partir para o ataque) e de inteligência (de modo a identificar a origem do fenômeno e enquadrar com antecedência os responsáveis pela balbúrdia).
Sol forte e praias cheias são marca tradicional do verão carioca. É fenômeno sazonal, previsível. O aumento do movimento de banhistas requer atenção especial dos órgãos de segurança, terreno do planejamento, uma providência que precisa estar permanentemente na base dos programas do poder público para esta época do ano.
Reportagem de ontem do GLOBO informava, no entanto, que a PM, responsável pelo policiamento ostensivo, fez um planejamento às pressas para a orla nestes dias de feriados. E, mesmo com a já conhecida manifestação da natureza pela desconsideração do calendário, antecipando tradicionalmente a chegada da estação mais quente do ano, a polícia ainda não iniciou a Operação Verão.
É preocupante essa onda de arrastões não só em razão do dever do poder público de assegurar a tranquilidade da população, seja em momentos de lazer ou não. Também porque está na mesa um fator pontual, mas nem por isso menos importante: entra-se agora na pré-temporada de grandes eventos, puxada pela Copa do ano que vem e estendendo-se até os Jogos de 2016. Prefeitura e estado precisam exibir a mão firme da ordem, impondo o respeito à lei e mostrando eficiência na organização das ações de vigilância ostensiva. De agora a sete meses, o Rio se torna uma vitrine para o mundo, e repercussões negativas de falhas no sistema de segurança serão extremamente danosas para a cidade.
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