O Estado de S.Paulo - 22/11
Foram retomadas em Genebra as negociações envolvendo o programa nuclear iraniano, depois que a última rodada, há duas semanas, fracassou quando a França se opôs ao acordo que parecia ter sido alcançado entre iranianos e as grandes potências. O novo presidente do Irã, Hassan Rohani - que não é um falcão, tampouco um reformador, mas um homem realista - deseja o acordo. É verdade que ele é vigiado de perto pelo líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, que mantém uma posição mais radical.
Às vésperas da retomada das conversações, o aiatolá Khamenei pronunciou um discurso feroz para censurar o presidente François Hollande por ter feito fracassar o acordo. Hollande ainda se permitiu visitar Israel no início da semana. Para Khamenei, esse foi um pecado mortal. "O regime sionista está condenado a desaparecer porque nenhum fenômeno imposto à força pode durar", disse.
O intransigente Khamenei aceitará que o realista Rohani conclua um acordo com o Irã moderando suas ambições no campo nuclear e, do outro lado, seus parceiros afrouxando as garras das sanções que levaram o rico Estado iraniano ao desamparo econômico.
Mesmo que suas estratégias sejam diferentes, Khamenei e o presidente Rohani nutrem uma simpatia recíproca. Desde que Rohani não ultrapasse algumas "linhas vermelhas", o líder supremo deverá deixá-lo seguir adiante.
Mas existe um "pomo da discórdia" entre os iranianos e o grupo dos 5+1, formado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, França, Grã-Bretanha, China e Rússia), mais a Alemanha. A construção da usina de Arak, com um reator de água pesada projetado para produzir plutônio, que serviria para a fabricação de uma bomba atômica. Isso significa que o Irã não se contenta em instalar uma cadeia de reatores para enriquecimento de urânio e produzir armas nucleares, mas também avança para produzir plutônio.
Às suspeitas dos ocidentais, especialmente da França, os iranianos sempre responderam que o plutônio da usina de Arak tem finalidade apenas civil (médica). Mas os serviços ocidentais descobriram que o Irã colocou em funcionamento uma outra central, de Shiraz, chamada IR-10, cuja finalidade em particular seria facilitar a obtenção de material físsil necessário para a produção de armas nucleares.
O que deixa os franceses inquietos é que os iranianos podem colocar o reator em operação e então será impossível bombardear a usina sem uma catástrofe nuclear. Essas são as razões que levaram o ministro do Exterior da França, Laurent Fabius, a rejeitar o acordo.
Fabius e o seu chefe, o presidente Hollande, mostraram sensatez e coragem, pois todos os seus parceiros queriam se livrar enfim desse "abacaxi". Se as discussões seguirem na direção de um acordo, mesmo que provisório, porém mais sério e mais responsável que o acordo de fachada desejado por Obama, então a conduta francesa no caso terá demonstrado talento e determinação. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
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