FOLHA DE SP - 22/11
Unifesp e OMS apresentarão revisões sobre sexualidade da nova Classificação Internacional de Doenças
No primeiro feriado do Dia da Consciência Negra, eu zoei do nome: "Taí. Um dia pra comemorar meu estado de espírito". Realmente não entendi porque parar de trabalhar para celebrar a diferença entre tapuias que somos todos debaixo do mesmo céu de anil.
Mesma coisa quando veio a Lei Maria da Penha. Custei a entender que a mulher precisava de um habitat só para ela, que os órgãos disponíveis não davam conta.
Demorei a entender a importância da simbologia. Só neste ano fui perceber o tamanho do absurdo de o Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Paraná, composto na maioria por juízes brancos, ter proibido liminarmente a própria existência do Dia da Consciência Negra em Curitiba. Mas, pela graça do Todo Poderoso, uma distorção dessas hoje não passa mais despercebida, e logo os 25 magistrados que bateram o martelo serão forçados a mudar de ideia com o rabinho entre as pernas.
Pela Constituição, estão assegurados direitos de mulheres, negros, crianças e judeus (lembra do caso do neonazista que negou a existência do Holocausto em livro e acabou condenado pelo STF?)
É verdade que muitos continuam cegos. O que importa é que leis de proteção aos mais vulneráveis não foram feitas para mudar burro velho. Servem para educar as próximas gerações. Na marra. Não respeitou? Então engula aqui uma sanção bem salgada.
Só que, daí, como ficam aqueles que precisam metabolizar o ódio ou quem vive de explorar o preconceito e a dor? Mas é claro! Ainda sobram os gays, essa corja de anormais, vamos todos cair de pau neles. Por pressão da bancada evangélica, a PLC 122, projeto que propõe a Lei Anti-Homofobia, acaba de ser retirada da pauta pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado.
Mas como tem muito querubim se mexendo no céu e agitando com o Lá de Cima --dá-lhe Cazuza, Santos Dumont, Lota de Macedo Soares, Cássia Eller!-- nos próximos dias 25, 26 e 27, a Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, juntamente com a Organização Mundial da Saúde, promoverà debate público em SP sobre as revisões que serão feitas na Classificação Internacional de Doenças (CID-11), no que diz respeito à sexualidade.
Em outros sistemas classificatórios de doenças mentais, a homossexualidade já deixou de ser doença há tempo. Mas lembra daquela psiquiatra do Rio que se baseava no artigo F66 do CID-10, que tratava como transtorno do ego-distônico, ou seja, o indivíduo que sofre por não aceitar sua sexualidade? E lembra que ela insistia que "cura" gay deveria continuar sendo prática legalizada por conta disso? Pois na nova edição da CID, listagem que orienta a Saúde do mundo inteiro, essa discrepância acabou.
No entender da OMS, qualquer orientação sexual deve ser encarada como parte natural do desenvolvimento. Está fora de questão patologizar. Um dia, quando formos todos menos ogros, conseguiremos entender o que gente como a filósofa Márcia Tiburi já diz há muito: que não existe sexo. Todos somos humanos com doses maiores ou menores de hormônios masculino ou feminino. Nesse quadro, encaixa-se um amplo espectro que mistura não só hormônios como influências externas de toda sorte, não há estudo que determine exatamente de onde vem a orientação sexual. Como também não há estudo que diga por que eu gosto de picolé de limão, mas odeio coentro. Só não venha pegar no meu pé por isso!
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