O Estado de S.Paulo - 22/11
O desemprego continuará em queda nos dois últimos meses do ano. É a temporada das vendas de fim de ano, em que o comércio contrata mais pessoal, em regime temporário de trabalho. Mas daí para a frente é improvável que se obtenham níveis de desemprego muito mais baixos do que esses 5,2% verificados em outubro.
O quadro geral não mudou e não mudará tão cedo. A economia vive um período muito próximo do pleno-emprego, num ambiente de baixo crescimento econômico (evolução do PIB de aproximadamente 2,5% ao ano).
Ao contrário do que acontece no resto do mundo, em que o desemprego é alto e, em muitos casos, segue aumentando (veja tabela no Confira), no Brasil o mercado de trabalho continua aquecido. Poderá se aquecer ainda mais se o governo conseguir o embalo pretendido na atividade econômica, maior do que os 2,5% deste ano. Esse aquecimento, por sua vez, é fator que tende a puxar para cima os salários e os encargos sociais, em velocidade maior do que a dos ganhos de produtividade da mão de obra. Ou seja, este se mantém como foco importante de inflação, como o Banco Central vem apontando há meses nos seus documentos.
Uma das características novas do mercado de trabalho no Brasil foi explicitada ontem pela especialista Adriana Beringuy, do IBGE. A população não economicamente ativa cresceu em outubro 3,5% quando comparada com as estatísticas de outubro do ano passado. Mas essa gente não aumenta o desemprego. Curiosamente, a maioria dessas 623 mil pessoas não trabalha, não estuda, não está doente, não procura emprego. Nessas condições, não se considera desempregada nem está descontente.
Este não é um fenômeno exclusivamente brasileiro que precisa de explicação. O que faz essa gente? Quem a sustenta? Que relação tem com o mercado informal, especialmente de serviços?
Também notável é a redução do ritmo da entrada dos mais jovens no mercado de trabalho. Mas esse é um fator mais bem conhecido. O período de escolaridade (e também de treinamento profissional) está aumentando em todo o mundo, e não apenas no Brasil, porque as atividades profissionais exigem cada vez mais especialização e conhecimento.
Novos dados, desta vez do mercado formal de trabalho (com carteira assinada), foram ontem divulgados pelo Ministério do Trabalho. Criaram-se 95 mil vagas em outubro, que acumulam pouco mais de 1 milhão de postos de trabalho no ano. A curva é claramente descendente, ou seja, mais postos continuam se abrindo, mas não mais na velocidade de alguns meses atrás.
Falta saber o que o governo pretende fazer para reduzir o rombo de R$ 47 bilhões no seguro-desemprego, num momento em que o Brasil vive níveis historicamente baixos de desemprego. Há duas semanas, a reação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi de espanto, como se esse estouro de despesas públicas não estivesse na conta. Chegou a convocar as lideranças sindicais para discutir uma saída, mas, em seguida, deixou morrer o assunto. É mais uma distorção que deixa o governo sem ação.
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