FOLHA DE SP - 07/11
SÃO PAULO - Alexander de Almeida, 39, é um personagem sem noção. Gasta até R$ 50 mil em baladas paulistanas, considera obrigatório usar roupas de grife e gosta de tomar vodca, mas pede champanhe por uma questão de status.
Tornou-se um dos assuntos mais comentados nas redes sociais graças a uma reportagem da revista "Veja São Paulo", mas, sobretudo, pelo vídeo em que aparece como o "rei do camarote". Assustou-se com a notoriedade adquirida, encerrou contas na internet, comprou logo dois carros blindados e, esquecendo-se de que quem não deve não teme, diz ter ficado com medo da Receita Federal.
Paulo Henrique, 9, é uma criança sem recursos. Vive em um barraco "um pouco apertado" --num único ambiente, uma cama de casal e dois colchões de solteiro abrigam o sono de oito pessoas. Sua mãe, faxineira, recebe R$ 200 por mês.
Tornou-se conhecido graças a uma fotografia do "Jornal do Commercio", reproduzida pela Folha, na qual seu corpo desaparece na água imunda de um canal do Recife. Em meio ao esgoto, o garoto catava latas para ajudar a família com no máximo R$ 10 por dia. Quando crescer, quer ser policial, "para pegar bandido". Sua história teve pouca repercussão nas redes sociais.
No Brasil desigual, Alexander é tão caricato que poderia ser fictício; mas, se fosse invenção, não soaria implausível e poderia ser real. O rei do camarote, no fundo, é uma metáfora de certa elite brasileira. Seus hábitos são extravagantes, suas preocupações são burlescas. O país seria melhor sem pessoas nessa condição?
Paulo Henrique representa outro tipo social. Apesar de sua miséria grotesca, a ninguém ocorre que seja ficção; dá-se de barato sua existência verdadeira. O menino do lixo escancara uma pobreza que ainda campeia Brasil afora, violenta, rotineira. O país certamente seria melhor sem pessoas nessa condição.
Qual deles merecerá suas retuitadas, compartilhadas e curtidas hoje?
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