O GLOBO - 18/11
Em todas as comparações internacionais, o Brasil se destaca como uma das economias mais fechadas do mundo. Isso significa que indivíduos e empresas têm limitadas opções de fornecedores. Para bens de consumo final, esse fato se traduz em redução no bem-estar das famílias. Quando se fala de insumos intermediários e bens de capital, os efeitos negativos se manifestam na perda de competitividade da indústria doméstica. Há 20 anos já era desvantagem competitiva ter acesso restrito a insumos intermediários. Atualmente — com a fragmentação dos processos produtivos e a ampliação de cadeias globais de valor, em que diferentes estágios da produção industrial são espalhados por diferentes países – essa desvantagem só tende a aumentar.
Não se defende que o Brasil se transforme em mera plataforma de montagem de produtos industriais para posterior exportação. Pelo contrário. Tampouco se imagina que seja possível (ou mesmo desejável) uma abertura comercial abrupta. Entretanto, também não é razoável imaginar que possamos ser competitivos em todos os elos da cadeia produtiva. Aliás, ainda que isso fosse possível, não faria sentido tamanho fechamento da economia.
A importação de insumos — principalmente bens de capital — é um importante canal de absorção de tecnologia. A relevância desse aspecto no desenvolvimento de países retardatários e, em especial, das nações do Leste Asiático — apontadas como sucessos de política industrial — é enfatizada por vários autores.
Ademais, a imposição de barreiras à importação de bens de capital tende a aumentar o preço relativo do investimento. Definitivamente não se trata de uma boa estratégia à luz das nossas baixas taxas de poupança doméstica e investimento.
Desse modo, mais do que maximizar a participação da indústria na nossa economia, a política industrial (e comercial) brasileira deveria criar condições para que alguns segmentos industriais se tornem competitivos e capazes de concorrer em escala global.
Embora o isolamento da nossa economia seja, em parte, fruto de escolhas feitas no passado, chama atenção a recente popularização de políticas industriais que aprofundam esse modelo de desenvolvimento autárquico. Cada vez mais, a produção doméstica de insumos intermediários tem sido protegida da competição internacional. A face mais visível dessa orientação são regras de conteúdo local, presentes em vários setores, margens de preferência em compras públicas para produtos nacionais e aumento expressivo dos desembolsos do BNDES (que, muitas vezes, têm como contrapartida a obrigação de compra de equipamentos e produtos nacionais).
Obviamente, o acesso a insumos intermediários e bens de capital importados não é a solução mágica para todos os problemas de competitividade da nossa indústria. Mas é parte da solução. Não há como alcançar competitividade mantendo-se isolado do fluxo internacional de comércio. No governo militar foi criada uma máxima que dizia: exportar é o que importa. Urge invertê-la. Importar é o que exporta.
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