ZERO HORA - 09/09
A deformação tem se ampliado a outros setores como a Petrobras e o Banco do Brasil
Depois dos episódios gerados pela intemperança bolivariana nas relações com o nosso país, que, aliás, as vem suportando com insensibilidade córnea, assim como por sua benquerença em relação à prática agressiva, levou o governo ao silêncio. Se esta foi a reação na esfera oficial, fora dela não desapareceu o desconforto. Deste, pode ser apontado programa que teve marcante repercussão dada a qualificação de seus participantes. Trata-se do programa Painel, semanalmente produzido sob a direção de William Waack, profissional de larga experiência local e internacional.
A ideia central não poderia ser mais objetiva acerca do que aconteceu com o Itamaraty e a política externa do Brasil nos últimos anos. Note-se que da conversação participavam o embaixador Rubens Antônio Barbosa, que encerrou sua atuação diplomática à frente das duas mais importantes embaixadas, em Londres e em Washington, o professor e historiador Marco Antônio Villa e o cientista Guilherme Casarões. Como seria de esperar, durante uma hora, as questões pertinentes foram examinadas de maneira impecável. O embaixador começou dizendo que não ocorrera mudança na política geral, que continuava voltada aos mesmos objetivos, mas que ocorreram certas preferências antes inexistentes, de inspiração ideológica e o que é mais, por vezes contrárias aos interesses brasileiros, o que é muito grave; exemplificou com o procedimento dado ao Paraguai, quando por muitas razões merece um tratamento especial, fatores antigos e atuais como os milhões de brasileiros que lá vivem e trabalham, a necessária energia elétrica gerada em Itaipu, e assim por diante; no entanto, o Brasil contribuiu para a suspensão paraguaia do Mercosul, sem uma justificativa e contra os interesses do Brasil; não é tudo, a Bolívia tem feito poucas e boas em desfavor do Brasil e, não obstante, não lhe cessam as blandícias por parte do nosso governo, lembrou a brutal expulsão da Petrobras e suas instalações, a revogação do acordo de fornecimento de gás e o consequente agravamento do preço a níveis quase insuportáveis, o incidente em avião do Ministério da Defesa revistado arbitrariamente, o afastamento de três embaixadores de postos importantes em solidariedade à Bolívia, em razão da revista em avião de Evo na Europa, e por fim, a recusa de salvo conduto ao senador boliviano asilado pelo Brasil, descumprindo cláusula expressa na disciplina internacional do asilo e que veio a motivar o desencontro atual. Isto sem falar na reiterada submissão à Argentina, como agora está ocorrendo novamente.
E para encerrar, o sumaríssimo afastamento do embaixador a quem fora confiada a chefia do Itamaraty, em horas, coisa jamais vista, sem precedente. Teria sido a derradeira mesura de homenagem ao governante boliviano. Tudo isso era a consequência de uma novidade inserida na estrutura da instituição, quebrando mais de século de observância, a política externa é nacional, e não partidária. Para não gastar palavras, o ministro de Estado das Relações Exteriores sempre foi o conselheiro, aliás, constitucional, da presidência da República no tocante, e agora, desde o governo passado, um assessor do presidente, estranho aos quadros do Itamaraty inominado e apelidado “Chanceler B”, faz as vezes de chanceler particularmente com relação à América do Sul.
Por uma espécie de metástase que se propaga, a deformação tem se ampliado a outros setores como a Petrobras e o Banco do Brasil, e de outros ainda de maior expressão transformados em sucursal de um partido.
Para encerrar, recorro a que disse o professor Marco Antônio Villa, o Itamaraty foi atingido como instituição e parece não saber o que quer.
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