FOLHA DE SP - 09/09
RIO DE JANEIRO - Deu no jornal. Beatriz, estudante carioca de 21 anos, é uma dos 100 mil inscritos no projeto da empresa holan- desa Mars One, que se propõe a selecionar 40 pessoas e, destas, despachar quatro para Marte em abril de 2023. Não para tomar sol e flanar pelos canais, mas para morar --o bilhete é só de ida-- e contribuir para criar uma colônia humana no nosso vizinho.
Vizinho, em termos. Marte fica a quase 60 milhões de quilômetros --sua menor distância da Terra-- e a viagem tomará sete meses. Nem a volta do trabalho para casa em São Paulo leva tanto tempo. Para isso, os candidatos a colonos-astronautas terão de suportar oito anos de treinamento, passar por centenas de simulações de voo e pouso e se habituar à miserável dieta que terão de praticar por lá. Diante disso, muitos dos selecionados cairão pelo caminho. Beatriz espera chegar às finais --foi até escolhida para estrelar um documentário promocional sobre a viagem.
Mas temo que essa empreitada exija um tipo diferente de pessoa --alguém que já tenha um razoável histórico de resiliência e dê provas diárias de que suporta agruras, revezes e privações sem perder a pose. Alguém que, certo de suas convicções, enfrente a fúria dos elementos em defesa delas. Enfim, alguém sobre quem não reste a menor dúvida.
O pastor Marcos Pereira, por exemplo. Com seu visual de vilão do cinema mudo --a que não faltam as olheiras de rolha queimada-- e acusado de estupro de fiéis, envolvimento com o tráfico, lavagem de dinheiro, participação em homicídio e arrotar sem motivo justo, ele está certo de que um "homem de branco" descerá das nuvens e o libertará dos aposentos de onde está vendo o sol nascer quadrado. "A cadeia não tem como me segurar", diz.
É de homens como ele que Marte precisa.
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