O GLOBO - 09/09
As democracias liberais, as economias de mercado e as políticas públicas de welfare state são os alicerces do paradigma ocidental. São um produto evolucionário, a síntese de duas grandes vertentes do Iluminismo que muito contribuíram para a modernidade: o liberalismo e a social-democracia. Pois bem, os excessos dos financistas, a complacência dos bancos centrais e a demagogia inconsequente dos políticos, após décadas de abusos, abalaram os fundamentos de nossa civilização. Essa é a grande crise contemporânea.
O episódio da quebra do Lehman Brothers em 2008, catalisador do colapso financeiro e da grande recessão em que mergulhou a economia global, foi portanto a revelação de um fenômeno bem mais complexo. Ficaram de joelhos grandes bancos como Bear Stearns, Lehman Brothers, Merrill Lynch, Wachovia, Citigroup e Bank of America. Morgan Stanley e Goldman Sachs travestiram-se de bancos comerciais para ter acesso aos recursos do Federal Reserve. As operações de salvamento estenderam-se às agências de financiamento imobiliário Fannie Mae e Freddie Mac, bem como à companhia de seguros AIG.
O que fazíamos nós, brasileiros, enquanto o mundo parou para conserto? Éramos uma fronteira de crescimento. Teria ajudado bastante a simples preservação de bons fundamentos fiscais e monetários: a geração de superávits críveis (sem recurso à contabilidade criativa) e a disciplina das metas monetárias (pois o teto acabou virando o centro). Ondas de investimentos seriam disparadas por adequada regulamentação nas áreas críticas de energia, petróleo e infraestrutura. Mas o governo tropeçou infelizmente em seus próprios preconceitos, bloqueando a rota dos investimentos e derrubando nossa taxa de crescimento.
A boa notícia é que, em tempos recentes, ao contrário do que sempre ocorria, nossos peca dos foram bem menores do que os cometidos pelos países avançados. A má notícia é que, sem mudanças, vamos desperdiçar, como nos últimos cinco anos, essa janela de oportunidade.
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