O Estado de S.Paulo - 27/09
Por mais que os sindicalistas insistam em afirmar que as condições do mercado de trabalho estejam piorando no Brasil, os números dizem o contrário. Em agosto, apenas 53 em mil brasileiros estavam desempregados (veja o gráfico), um índice muito próximo dos mínimos históricos, que se vêm repetindo há três anos.
Há meses, os economistas espremem seus miolos para entender o paradoxo do crescimento econômico repetidamente medíocre com uma situação de pleno emprego.
Às vezes, tendem a sustentar a hipótese de que o erro está nas Contas Nacionais, que não vêm medindo corretamente o que se passa na atividade econômica. O setor de serviços estaria sendo mal avaliado e o avanço do PIB seria mais alto do que dizem as estatísticas do IBGE. Se for isso, se o setor de serviços tem uma participação maior do que os 67,5% admitidos, então a indústria está pior. O IBGE já anunciou que está revendo seus cálculos.
Outros economistas puxam para o lado demográfico: há menos desemprego ou porque há mais de 20 anos a natalidade vem diminuindo ou porque os jovens demoram mais para entrar no mercado de trabalho, uma vez que têm de estudar mais. Em termos mais técnicos, há uma redução da População Economicamente Ativa (PEA). Pode ser um pedaço da verdade.
Uma terceira hipótese parece mais plausível: há cada vez menos procura de emprego porque hoje mais gente está trabalhando por conta própria (atividade autônoma) ou, então, se virando com biscates. A impressão que se tem é de que nenhum desses guardadores de carro em dias de jogos do Corinthians está procurando emprego. Não que estejam satisfeitos com o que ganham. É que devem achar uma chatice arrumar emprego para acordar de madrugada, gastar horas na condução para atravessar a cidade e esperar pelo holerite carregado de descontos no fim do mês. Conjugado à inflação alta, que corrói o poder aquisitivo do trabalhador, é um fator que tende a reforçar a procura por ocupação informal.
No caso do Brasil essa situação de pleno emprego (ou quase isso) mascara um problema e cria outro. O primeiro é a persistente baixa produtividade da mão de obra. Por mais que empregue pessoal, o mercado de trabalho concorre pouco para aumentar a produção. É uma situação que reflete o nível precário do ensino do País e a baixa capacidade de treinamento.
O crescente problema que daí provém é o aumento dos custos e, em consequência disso, o achatamento da competitividade da indústria, especialmente se for confirmado o tamanho maior do setor de serviços no Brasil. Do ponto de vista macroeconômico, a situação de pleno emprego aponta para o baixo potencial de expansão da economia. Dito de outra forma, ficaria bem mais difícil crescer a 3% ou 4% ao ano se já há excessivo aquecimento no mercado de trabalho com avanço do PIB de apenas 0,9% (em 2012) ou em torno de 2,4% (neste ano). Seria um fator adicional a exigir mais produtividade da força de trabalho.
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