sábado, setembro 21, 2013

Descompasso - PAULO SILVA

CORREIO BRAZILIENSE - 21/09
A semana que se encerra foi das mais significativas na área de infraestrutura brasileira. Houve, na quarta-feira, o desfecho do leilão da primeira concessão de rodovia federal neste ano. No dia seguinte, tornaram-se conhecidas as 11 empresas que pretendem se candidatar ao leilão do campo de Libra, o primeiro do pré-sal brasileiro, marcado para 21 de outubro.
Integrantes do governo procuram demonstrar em seus discursos que os dois processos tiveram resultado altamente satisfatório. Tal esforço de convencimento já é sinal de que as coisas não foram tão bem assim. Afinal, o sucesso costuma ser autoexplicativo.

As frustrações, nos dois casos, estão na ausência de competidores de peso. Uma das concessões de estradas, a da BR-262, em Minas Gerais e Espírito Santo, não teve um único interessado. O leilão teve de ser adiado.

Para a BR-050, em Goiás e Minas, houve oito inscritos, e o vencedor ofereceu desconto de 42,38% sobre o valor máximo de pedágio proposto pelo governo. São números que podem dar a impressão de bom resultado, mas apenas quando não se conhece a história completa.

O consórcio que levou a concessão é composto por empresas pouco conhecidas no mercado, nenhuma delas com experiência na operação de rodovias. É grande a insegurança quanto à capacidade do grupo de cumprir o prometido em termos de obras e de assistência ao usuário.

Na lista do leilão de Libra também destacam-se ausências: a expectativa do próprio governo era de 40 inscritos. Ficaram fora cinco das maiores empresas de petróleo do mundo.

Se as expectativas em torno dos leilões são excessivas, a culpa é do próprio governo, que deposita neles uma série de responsabilidades: melhorar o conforto da população; elevar os investimentos e o crescimento do país; garantir o fluxo de capital externo em um momento de incertezas globais; permitir o equilíbrio das contas públicas; e proporcionar segurança energética a longo prazo.

A complexidade não se resume à extensa lista de objetivos. Está também nos modelos de operação, que unem entes públicos e privados nas operações e no financiamento. Empresas, porém, costumam valorizar preferência pela clareza e pela simplicidade. Tal descompasso tem resultado em desinteresse.

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