FOLHA DE SP - 05/08
RIO DE JANEIRO - Há três meses, quando me falaram dos "black blocs", achei que eram uma nova versão do extinto grupo New Kids on the Block. Hoje, ninguém faria essa confusão. De tanto vê-los na TV ou nos jornais, atacando vidraças, carros e orelhões, ou atirando bombas na polícia, sabemos que são um grupo anarquista. E, como tal, dedicado a combater o Estado, a autoridade, a hierarquia e qualquer ideia de ordem.
Apesar disso, reina entre eles uma certa ordem: todos usam máscara e se vestem de preto de alto a baixo. É normal, não querem ser identificados. O que leva à pergunta: por trás do aparato quase militar com que se cobrem, quem são? É um fenômeno ainda a ser estudado.
Eles parecem jovens, mas quão jovens? Estarão na faixa dos 20 ou dos 30 anos? Dão-se bem com os pais? Estes sabem de suas atividades? Ou nem desconfiam, já que seus filhos são bons meninos no lar e só assumem suas identidades secretas na rua? Ainda moram com a família ou já saíram de casa? Se for este o caso, têm emprego fixo ou algum rendimento? Sustentam-se sozinhos? Estudam? Fazem os trabalhos, prestam exames, passam de ano? Falam de política com os professores?
Em quem votaram nas últimas eleições? E, se votaram, ainda se lembram em quem votaram? Bebem, fumam, usam alguma droga? Têm namorada ou apenas "ficam" com as amigas? Vão ao cinema? Jogam pelada na praia? Gostam de futebol, torcem por algum time, vão aos estádios? E, nestes, são tão incisivos quanto nas ruas? Quais são seus anarquistas favoritos? O jornalista inglês William Godwin (1756-1836)? O filósofo francês Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865)? O ativista italiano Errico Malatesta (1853-1932)?
O anarquismo clássico pode ser de extrema esquerda ou de extrema direita. Qual deles estará por trás das burcas com que os nossos anarquistas se vestem?
Nenhum comentário:
Postar um comentário