O GLOBO - 05/08
Num dado momento aventou-se a possibilidade de postergar a reunião de cúpula para agosto. Se de fato tivesse ocorrido o adiamento, teria sido a manobra política mais acertada visando a acomodar a volta do Paraguai à condição de sócio pleno ainda durante a presidência pro tempore do Uruguai caso ela fosse prorrogada por pouco mais de um mês. Coincidiria com a posse do presidente eleito em abril e propiciaria ao novo Congresso paraguaio boa vontade para votar favoravelmente a adesão plena da Venezuela. No entanto, prevaleceu a empáfia em vez da racionalidade traduzida na declaração do chanceler brasileiro para que o Paraguai trate de se adaptar à nova ordem institucional do bloco.
Assim, a reunião aprovou uma decisão específica considerando restabelecida a ordem democrática naquele país com as eleições de abril último, voltando o país a retomar sua condição de membro pleno. Contudo, o novo mandatário paraguaio não aceita a presidência pro tempore da Venezuela, concedida na ocasião, enquanto o novo Congresso não votar favoravelmente sua formal admissão. Vislumbra-se a continuidade do imbróglio institucional no Mercosul.
O encontro tampouco deu qualquer atenção aos problemas operacionais que afligem o bloco porque os temas dominantes concentraram-se nas denúncias de espionagem americana e na interdição do espaço aéreo imposta por países europeus ao avião do presidente da Bolívia. Por outro lado, resolveu solificar a integração subregional saudando a iminente incorporação da Bolívia e mais adiante a do Equador, além de alçar o Suriname e a Guiana ao status de países associados. Além disso, demonstraram uma antevisão política de fazer inveja ao falecido Hugo Chávez pelo apoio dado às declarações do fórum social do Mercosul acusando a Aliança do Pacífico de contribuir para uma grave cisão na integração latino-americana.
Na verdade, seria demasiado cobrar um rasgo de desprendimento e lucidez aos mandatários que, nos últimos dois anos, pouco ou nada fizeram para contornar as mazelas comerciais que assolam esse organismo. Antes pelo contrário, principalmente brasileiros e argentinos desfilaram um rosário de equívocos institucionais e adoção de medidas protecionistas contrárias aos dispositivos do Tratado de Assunção e da própria Organização Mundial do Comércio. Basta rever a salada de atos administrativos e fiscais praticadas pelos dois maiores sócios, entre si e com o resto do mundo. Não à toa o Uruguai mostra-se cada vez mais descontente e francamente favorável à abertura do bloco para acordos individuais de comércio com outras áreas.
Definitivamente, o Brasil está metido num novelo político-institucional que vem assumindo contornos de difícil reversão. Isso no momento em que aumentam as manifestações empresariais, acadêmicas e, até mesmo, de algumas esferas oficiais clamando por maior liberdade de o país negociar acordos de livre comércio com áreas e países mais desenvolvidos. Contudo, o crescente fortalecimento do Mercosul provavelmente irá cada vez mais dificultar as penosas negociações do bloco com a União Europeia. Recentes declarações do Comissário de Comércio da Comunidade revelaram a disposição de aceitar velocidades distintas para cada país do bloco, mas a diversidade de países membros e as contínuas demonstrações do governo argentino de aversão à liberalização comercial vão conspirar contra esse arranjo.
O quadro atual mostra uma notável incoerência do governo brasileiro em matéria de estratégia comercial: por um lado estimula os setores industriais a envidar esforços para apresentar ofertas viáveis à UE, mas por outro mostra-se leniente com a demagogia terceiro-mundista de abrigar novos sócios inconvenientes e desnecessários. Notável contrassenso e completa falta de juízo.
Um comentário:
Excetuando os de autoria petista e afins, os diagnósticos sobre o cenário atual da economia brasileira (e da política também!) convergem para uma visão bastante negativa do futuro.
É mais do que hora para buscar convergência também sobre o rumo a seguir de modo a evitar que essa visão se concretize. Obviamente, essa busca deve focar nas eleições de 2014.
O risco de má governança foi assumido pelo eleitor brasileiro quando elegeu Lula em 2002 e 2006; Dilma Rousseff em 2010. Como era de se esperar, não está dando certo.
Não se pode deixar um país complexo como o Brasil entregue a pessoas tão despreparadas e inexperientes, além de dominadas por uma ideologia antimercado estatizante e amplo contingente de corruptos.
No entanto, em cada oportunidade, uma avaliação objetiva e rigorosa teria indicado outro caminho.
Tomara que, em 2014, o eleitor não cometa erro idêntico pois o que deverá ser corrigido, somado ao que deverá ser criado, exigirá enorme competência e, sobretudo, liderança e honestidade.
Que tal começar, desde já, a fazer o plano para eleger com maioria consagradora (esmagadora!)o futuro presidente, garantindo-lhe, por meio de escolhas cuidadosas, margem de apoio no Congresso (Câmara e Senado) que dispense alianças espúrias? O mínimo a exigir é Ficha Limpa!
Que tal fazer uma escolha baseada em desempenho passado, refletindo o que já realizou enfrentando desafios internos, externos, políticos e econômicos?
Que tal pensar em Fernando Henrique Cardoso?
VOLTA FHC !!!
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