CORREIO BRAZILIENSE - 31/08
Empresas de seguro não protegem veículos brasileiros que transitam pela Bolívia. Não há apólice que cubra eventual prejuízo. O país é uma espécie de desmanche a céu aberto de carros furtados no Brasil. Existe até uma negociação em curso para a devolução aos brasileiros daquilo que bolivianos retiram das ruas neste país. É preciso entender a Bolívia neste contexto. O país é paupérrimo. Seu Produto Interno Bruto é inferior ao do Maranhão.
Foi violentamente saqueado pelos espanhóis no século 17. As montanhas de prata que existiam em Potosi - cidade que chegou a ter população maior que a de Londres - foram transportadas para a Europa. Não é por acaso que o rio por onde a riqueza era transportada recebeu o nome de Rio da Prata e o país ao sul de onde partiam grandes navios abarrotados daquela maravilha ganhou o nome de Argentina, que deriva de argentum, prata em latim. O país foi criado por capricho. Apenas para homenagear Bolívar, o libertador.
A Bolívia é também o país campeão de golpes de Estado no continente. Hoje, reúne enormes plantações de coca devidamente protegidas por Evo Morales, o presidente da República. Ele encontrou no senador Roger Pinto Molina um adversário à altura, capaz de ameaçar o governo, que vive em permanente conflito de facções que disputam posições dentro do poder central. Recentemente, ele interrompeu obras de uma estrada porque ela atravessaria área de produção da matéria-prima da cocaína. O conflito é boliviano. Mas atravessou a fronteira e chegou ao Brasil, por Corumbá.
O embaixador Marcel Biato foi assessor especial do professor Marco Aurélio Garcia. Na época de sua nomeação para representar o Brasil em La Paz, era entusiasta das políticas de Evo Moraes. Seguiu feliz para o novo posto. Alguma coisa mudou, porque ele decidiu conceder asilo ao senador oposicionista boliviano. A urgência determinou sua ação. Já em Brasília, a caminho do novo posto em Estocolmo, Suécia, ele foi qualificado por Evo Morales como líder da oposição. Depois, perdeu o novo posto. A presidente Dilma revogou sua própria indicação.
O senador boliviano permaneceu 455 dias preso numa sala, no prédio onde funciona a Embaixada do Brasil, em La Paz. Razões humanitárias levaram o ministro conselheiro Eduardo Saboia a colocá-lo dentro de um carro, atravessar 1.600km de estradas péssimas, de terra, sem nenhuma assistência. Viajaram utilizando fraldas geriátricas, para não perder tempo.
No percurso, o diplomata brasileiro foi parado 12 vezes pela polícia local. Em nenhuma delas os carros foram vistoriados. Os dois fuzileiros navais que fizeram a segurança não precisaram agir. Os militares só puderam participar da operação porque foram autorizados por alguém de patente superior. Esperava o cortejo, em Corumbá, o senador Ricardo Ferraço, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal, policiais federais, médicos e um jato executivo que levou o asilado a Brasília.
A história não está bem contada. O governo boliviano deu indicações aos brasileiros de que a melhor solução seria levar o senador Pinto Molina para o Brasil de maneira informal. Assim foi feito. O incidente é menor. Não tem poder de modificar as relações do Brasil com a Bolívia, que sempre viveram numa espécie de gangorra, um sobe e desce constante. Os interesses nacionais do país vizinho se concentram no gás. O Brasil paga por ele preço muito superior ao do mercado internacional.
A queda de Antonio Patriota é curiosa. Ele deixa o cargo de chanceler e assume o de embaixador junto às Nações Unidas. Vai viver em Nova York, frequentar coquetéis e reuniões do primeiríssimo nível internacional. É um prêmio. O ministro que estava lá veio para cá. Resta saber o que vai ocorrer com os dois personagens da confusão - o embaixador Marcelo Biato e o ministro Eduardo Saboia. Evo Morales, assistindo de camarote à confusão reinante na diplomacia brasileira, pede a devolução de seu desafeto.
A diplomacia brasileira já viveu dias melhores. A tradição de objetividade, capacidade de negociação, foi ultrapassada em nome de interesses ideológicos que se tornaram anacrônicos. A invasão da embaixada brasileira em Tegucigalpa pelo presidente deposto Manuel Zelaya - apoiado por Hugo Chávez - e o confuso episódio que suspendeu o Paraguai do Mercosul e permitiu a entrada da Venezuela revelam que a diplomacia brasileira se perdeu. Não mede consequências de seus atos, não se impõe no momento devido e não mais tem rumo definido.
Foi violentamente saqueado pelos espanhóis no século 17. As montanhas de prata que existiam em Potosi - cidade que chegou a ter população maior que a de Londres - foram transportadas para a Europa. Não é por acaso que o rio por onde a riqueza era transportada recebeu o nome de Rio da Prata e o país ao sul de onde partiam grandes navios abarrotados daquela maravilha ganhou o nome de Argentina, que deriva de argentum, prata em latim. O país foi criado por capricho. Apenas para homenagear Bolívar, o libertador.
A Bolívia é também o país campeão de golpes de Estado no continente. Hoje, reúne enormes plantações de coca devidamente protegidas por Evo Morales, o presidente da República. Ele encontrou no senador Roger Pinto Molina um adversário à altura, capaz de ameaçar o governo, que vive em permanente conflito de facções que disputam posições dentro do poder central. Recentemente, ele interrompeu obras de uma estrada porque ela atravessaria área de produção da matéria-prima da cocaína. O conflito é boliviano. Mas atravessou a fronteira e chegou ao Brasil, por Corumbá.
O embaixador Marcel Biato foi assessor especial do professor Marco Aurélio Garcia. Na época de sua nomeação para representar o Brasil em La Paz, era entusiasta das políticas de Evo Moraes. Seguiu feliz para o novo posto. Alguma coisa mudou, porque ele decidiu conceder asilo ao senador oposicionista boliviano. A urgência determinou sua ação. Já em Brasília, a caminho do novo posto em Estocolmo, Suécia, ele foi qualificado por Evo Morales como líder da oposição. Depois, perdeu o novo posto. A presidente Dilma revogou sua própria indicação.
O senador boliviano permaneceu 455 dias preso numa sala, no prédio onde funciona a Embaixada do Brasil, em La Paz. Razões humanitárias levaram o ministro conselheiro Eduardo Saboia a colocá-lo dentro de um carro, atravessar 1.600km de estradas péssimas, de terra, sem nenhuma assistência. Viajaram utilizando fraldas geriátricas, para não perder tempo.
No percurso, o diplomata brasileiro foi parado 12 vezes pela polícia local. Em nenhuma delas os carros foram vistoriados. Os dois fuzileiros navais que fizeram a segurança não precisaram agir. Os militares só puderam participar da operação porque foram autorizados por alguém de patente superior. Esperava o cortejo, em Corumbá, o senador Ricardo Ferraço, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal, policiais federais, médicos e um jato executivo que levou o asilado a Brasília.
A história não está bem contada. O governo boliviano deu indicações aos brasileiros de que a melhor solução seria levar o senador Pinto Molina para o Brasil de maneira informal. Assim foi feito. O incidente é menor. Não tem poder de modificar as relações do Brasil com a Bolívia, que sempre viveram numa espécie de gangorra, um sobe e desce constante. Os interesses nacionais do país vizinho se concentram no gás. O Brasil paga por ele preço muito superior ao do mercado internacional.
A queda de Antonio Patriota é curiosa. Ele deixa o cargo de chanceler e assume o de embaixador junto às Nações Unidas. Vai viver em Nova York, frequentar coquetéis e reuniões do primeiríssimo nível internacional. É um prêmio. O ministro que estava lá veio para cá. Resta saber o que vai ocorrer com os dois personagens da confusão - o embaixador Marcelo Biato e o ministro Eduardo Saboia. Evo Morales, assistindo de camarote à confusão reinante na diplomacia brasileira, pede a devolução de seu desafeto.
A diplomacia brasileira já viveu dias melhores. A tradição de objetividade, capacidade de negociação, foi ultrapassada em nome de interesses ideológicos que se tornaram anacrônicos. A invasão da embaixada brasileira em Tegucigalpa pelo presidente deposto Manuel Zelaya - apoiado por Hugo Chávez - e o confuso episódio que suspendeu o Paraguai do Mercosul e permitiu a entrada da Venezuela revelam que a diplomacia brasileira se perdeu. Não mede consequências de seus atos, não se impõe no momento devido e não mais tem rumo definido.
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