FOLHA DE SP - 20/08
SÃO PAULO - É evidente que nações como os EUA e o Reino Unido têm não apenas o direito como também o dever de combater o terrorismo. É igualmente certo que a inteligência é o melhor caminho para fazê-lo. Entre a CIA e a NSA agindo nas sombras e os marines marchando conspicuamente sobre Bagdá, fico com a primeira opção sem pestanejar.
Isto esclarecido, manifesto meu irrestrito apoio a Edward Snowden e, por extensão, a Glenn Greenwald e ao brasileiro David Miranda. A contradição entre o primeiro e o segundo parágrafos é apenas aparente.
O advento do Estado, com sua polícia, Poder Judiciário e agências de segurança, ao prevenir e disciplinar os zilhões de conflitos interpessoais que ocorrem todos os dias em qualquer área um pouco mais povoada, foi a invenção que mais contribuiu para domesticar a barbárie entre os homens. Mas a segunda invenção que mais ajudou a reduzir a violência foram os mecanismos de controle que visam a impedir que o Estado se volte contra os cidadãos.
Assim, mesmo sem aceder à crença ingênua de que leis internacionais, tratados de amizade e ações individuais como a de Snowden poderão um dia pôr fim à espionagem, devemos apoiar tudo aquilo que concorra para manter o Leviatã estatal sob rédeas tão curtas quanto possível. Divulgar seus excessos, como o fez o ex-agente da CIA é um bom começo. Idem para tentar provocar uma reação concertada da comunidade internacional, ainda que haja algo de irremediavelmente hipócrita em ver Rússia e Equador posando de paladinos da liberdade de imprensa.
A detenção de David Miranda por autoridades britânicas, num exercício explícito de "bullying" --e contra alguém que, em princípio, não tem nada a ver com a história--, prova quão necessário é impor freios e contrapesos à mão pesada do Estado.
Espera-se que o governo Dilma Rousseff reaja com um pouco mais de firmeza do que mostrou até aqui.
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