VALOR ECONÔMICO - 20/08
Os números das estimativas mensais do Banco Central sobre as variações do PIB, o chamado IBC-Br, e a reação dos analistas econômicos a eles mostram a preocupante desconfiança recíproca entre o setor privado e o governo. Ela está consumindo a energia que deveria estar sendo dirigida para a aceleração dos investimentos.
Os números acumulados do trimestre abril-junho cresceram 0,9% com relação ao trimestre janeiro-março, ligeiramente menor do que entre o último trimestre de 2012 e o primeiro de 2013. Quando comparamos o índice do segundo trimestre de 2013 com o de 2012, temos uma estimativa de crescimento anual do PIB avaliado pelo IBC-Br da ordem de 3,5%, o que mostra avanço sobre o crescimento de 2,2% do PIB efetivamente calculado pelo IBGE entre o primeiro trimestre de 2013 sobre o seu homólogo de 2012.
Em condições normais de pressão e temperatura isso deveria gerar uma expectativa auspiciosa: o PIB poderia crescer, em 2013, entre 3,5% e 4%, o que ajudaria a estimular os investimentos privados. Não é esse, entretanto, o "sentimento geral". Há um exagerado pessimismo, que não é justificado pelas incertezas que cercam a economia mundial em geral e a brasileira em particular. Há um fator adicional significativo. Ele não é o "ativismo" do governo, mas a forma de sua implementação. Os objetivos de longo prazo das medidas propostas são corretos. A execução, entretanto, foi sempre acompanhada de imenso ruído e, frequentemente, por resultados que deixam muito a desejar.
Primeiro, pela busca da desejável modicidade tarifária levada ao extremo pelo "voluntarismo" irrealista. Segundo, por fatos supervenientes, como foi o caso da intervenção no setor elétrico. Duas circunstâncias não previsíveis, a evolução da hidrologia e a queda dos preços do alumínio no mercado internacional, produziram resultados decepcionantes: 1) um aumento substancial de custo para o Tesouro Nacional (isto é, para a coletividade que paga os impostos); e 2) a suspensão pela Alcoa da produção de mais de 120 mil toneladas anuais de alumínio. Estamos voltando a ser apenas exportadores de bauxita e importadores do metal, apesar do correto esforço de reduzir a tarifa de energia em 12% (o "programado" era 28%).
A causa "causans" das dificuldades encontradas na execução das medidas do governo foi a indisposição ao diálogo da interface das negociações da autoridade com o setor privado. Ele foi dominado pela falta de flexibilidade para acomodar legítimos interesses contraditórios. Faltou aos interlocutores a humildade de entender que não eram, como se supunham, os defensores da sociedade em luta contra uma classe de superegoístas cujo único objetivo era assaltá-la.
É preciso reconhecer que recentemente as coisas mudaram. Com a intervenção direta do ministro Mantega, ampliou-se o diálogo. Aumentou a flexibilidade e cresceu a esperança que os próximos leilões de concessões de estradas de rodagem e aeroportos serão bem-sucedidos. Seria recomendável, aliás, a mesma flexibilidade na preparação do leilão do óleo do pré-sal para poupar a Petrobras e dar maior agilidade à exploração, uma vez que seus resultados futuros já foram distribuídos ontem...
Por iniciativa da presidente avançam, também, os entendimentos entre Executivo e Legislativo. Reconstrói-se a confiança tão necessária para a continuidade das reformas de que o Brasil carece. Apenas como exemplo, o impasse na aprovação do Projeto de Lei 4330, que é um instrumento de defesa e proteção do trabalhador terceirizado, revela o grau de incompreensão e dificuldade ainda existente para instituir uma relação mais eficiente e que respeite todos os seus direitos.
Talvez seja a falta de percepção de que o governo move-se na direção correta o que alimenta a desconfiança de parte do setor privado, que continua a prever um afundamento da atividade econômica no segundo semestre. De fato, o indicador antecedente do comportamento da economia brasileira da Fundação Getúlio Vargas vem recuando desde abril e registrou em julho uma queda importante de 1,8% com relação a junho.
O mesmo movimento é detectado pelos índices de confiança da mesma FGV, que se veem no gráfico abaixo. Eles mostram uma queda desde 2011 no setor de serviços, uma queda importante desde o início de 2012 no setor de consumo e uma estagnação no setor manufatureiro desde meados de 2011, sugerindo um segundo semestre inferior ao primeiro.
A última oportunidade para inverter tal expectativa é um robusto sucesso na cooptação dos investimentos privados nos próximos leilões de estradas, aeroportos e energia, cuja probabilidade aumentou pela mudança de atitude do governo.
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