O ESTADÃO - 23/08
Quando o PSDB elegeu o senador Aécio Neves presidente do partido, em maio último, automaticamente consolidou seu nome para concorrer à Presidência da República em 2014. Os tucanos não queriam dar mais espaço às tergiversações e aos vaivéns que marcam suas decisões sobre candidaturas presidenciais há mais de dez anos.
O próprio Aécio já havia dado ao assunto atestado de questão vencida, ao declarar que sua eleição significava a virada da página das divisões e disputas internas no partido. Portanto, não há que se falar em prévias para escolha da candidatura presidencial sem se atentar para a evidência de que se trata de uma fabulação em torno de um fato consumado.
O partido abre um debate a respeito de algo decidido; de onde, não há remota possibilidade de ocorrer uma disputa na acepção do termo. Então, qual a utilidade de tudo isso? Pelo jeito, só para ganhar tempo e espaço no noticiário, conquanto tal atitude não preste as devidas homenagens ao discernimento do respeitável público de um filme visto e revisto.
Essa história de prévias surgiu a partir da disposição cada vez mais clara do ex-governador José Serra de se candidatar em 2014 –preferencialmente à Presidência. Seus aliados resistem a deixar o PSDB e ele, por sua vez, mede o efeito da saída sobre esse grupo.
Diante do falatório, o senador Aécio resolveu rebater dizendo que aceita as prévias e Serra devolveu a bola afirmando que tudo bem, mas quer conhecer as regras sobre a abrangência de participação, prazos, condições de igualdade na competição e saber qual a “taxa democrática” da disputa.
O jogo de cena agride a lógica. Primeiro, não existe a hipótese de resultado que não a vitória de Aécio. E depois Serra fala de exigências que sabe muito bem que não vão e não podem ser cumpridas. Exemplo: como se mede a “taxa democrática”?
Falam por falar. Os tucanos não querem que Serra saia. Por menos chance que ele tenha devido à alta rejeição nas pesquisas e às dificuldades de alianças e financiamento numa campanha pelo PPS que negocia a filiação com ele, dividiria o eleitorado no mesmo campo e reduziria as chances do PSDB de estar no segundo turno.
A preliminar é: Serra quer mesmo ser candidato a presidente? Na interpretação de tucanos, a declaração dada por ele em Brasília na última quarta-feira admitindo a possibilidade é um sinal de que está iniciando os preparativos para sair do partido. Justamente porque tem perfeita noção da impossibilidade de ser candidato pelo PSDB.
Poderia ficar e disputar o Senado? Poderia, mas não há garantia de nada. Aliás, nada está garantido, saindo ou ficando. Trata-se agora de avaliar qual a decisão menos prejudicial.
De um lado, seus (ainda) companheiros de partido tentam convencê-lo de que é melhor ficar. A dúvida é: melhor para quem, para ele ou para eles?
De outro lado, o presidente do PPS, deputado Roberto Freire, repete nas conversas com Serra que a insegurança é geral. “Não se dizia que a reeleição de Dilma Rousseff estaria assegurada? Hoje esta é uma possibilidade, mas não é uma certeza como já foi”, argumenta.
Embora admita que existam muitas críticas em relação ao (ainda) tucano, Freire percebe reconhecimento aos atributos dele como gestor. “Num quadro de crise econômica, o eleitor vai levar em conta a capacidade dos candidatos de enfrentar situações difíceis e este é um ativo inegável de Serra.”
As tratativas com o PPS estão avançadas, embora não concluídas. O limite para a decisão, em tese, é o dia 5 de outubro. Na prática, porém, o prazo legal não é o mesmo que o prazo político.
Se resolver mesmo trocar de partido, mas deixar para anunciar a decisão na última hora, José Serra não terá tempo para articular adesões reduzindo a densidade política de sua filiação ao PPS para ser candidato a presidente.
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