O que falar desse Royal Baby? A TV o adora e também as rádios. Elas não se cansam (pior para nós) de nos mostrar ininterruptamente um personagem saído do teatro de Shakespeare ou de um melodrama barato do século 19, vestido como um periquito amarelo, vermelho e verde, anunciando aos berros, para o universo encantado, que o bebê real finalmente chegou. Como não estou muito a par do que se deve falar desse bebê, recorri aos jornais impressos, sempre mais calmos, mais inteligentes e mais cultos do que os feitos de imagens ou de ruídos. Para a minha decepção, a imprensa nobre, a de papel, na França pelo menos, olha distraidamente para o principezinho gorducho.
No Libération, fundado depois das revoltas de maio de 1968 por alguns trotskistas, anarquistas e por Jean-Paul Sartre, tivemos de virar dez páginas antes de saber que veio ao mundo o filho do casal Cambridge. Mas, nada de sobressaltos: o Libération é um jornal "de vanguarda", o que quer dizer que ele olha sempre "para trás".
O Figaro se saiu melhor. Consagrou duas páginas à criança, com retratos de Diana, a rebelde, para uma comparação, e de Kate, a discreta, para não dizer "a conformista", embora no vocabulário do jornal das altas e ricas esferas bem pensantes, o adjetivo "conformista" não tenha sentido pejorativo, mas "apreciativo". O jornal Le Monde, o melhor da França, considerado de centro-esquerda, não fez uma cobertura melhor do que o Figaro. O acontecimento planetário dos Windsor foi espremido no fundo da quarta página. O artigo é curto, com um título extraordinariamente banal: "O bebê real, herdeiro do clã Windsor, é objeto de grandes expectativas".
Avaliando talvez a mediocridade do título, um subtítulo acrescenta: "O recém-nascido prometido ao trono britânico deverá crescer como um homem moderno, embora permanecendo fiel às exigências dinásticas". Sem dúvida! Mas, então, se o Royal Baby encontrou tantas dificuldades para ser alçado à primeira página dos grandes jornais impressos franceses, terá rivais?
No Figaro, a criança britânica divide os holofotes com incidentes raciais na periferia parisiense, uma pesquisa sobre o lobby dos táxis da capital, os perigos do calor exagerado e o papa Francisco a caminho do Rio. No Libération, a capa está inteiramente dedicada a um deputado francês, desprezível e ao mesmo tempo idiota, que achou engraçado afirmar que "teria sido melhor se Hitler tivesse continuado a matar os ciganos em vez de deixar o serviço pela metade".
O jornal Le Monde consagrou sua capa tanto à retomada econômica, eternamente e comicamente anunciada há 12 meses pelo presidente François Hollande, e ao martírio da Síria. Além do breve registro sobre o herdeiro britânico, o jornal dedica duas reportagens à visita do papa Francisco ao Brasil.
Podemos tirar uma conclusão: os novos papas e os filhos de princesas estão mais à vontade nas telas de TV ou nos estúdios das rádios do que nas páginas frias dos jornais de papel. Entretanto, não duvidemos da imprensa escrita. Na França, ela costuma estar sempre um dia atrasada./TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
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