FOLHA DE SP - 24/07
RIO DE JANEIRO - Em 1967, quase um foca numa "Manchete" cuja equipe de reportagem tinha Roberto Muggiati, Muniz Sodré, Lêdo Ivo, Ricardo Gontijo e outros, eu já sabia que não havia ali ninguém como Carlos Marques. Era o repórter por excelência, especialista em ir lá, não importava onde, e trazer a informação, não importava como. Justino Martins, diretor da revista, o adorava.
Logo depois, ao dividir um quarto com Carlos no Solar da Fossa, descobri que ele se daria bem em qualquer função que exigisse desembaraço, ideias e sedução. A prova era a quantidade de mulheres que se atiravam a ele, um jovem (23 anos) bugre pernambucano, e de homens importantes que se encantavam e lhe confiavam tudo.
A vida nos separou em 1969 ou 70, e só retomei contato com Carlos em 2012, ao ler seu livro de memórias, "Lá Sou Amigo do Rei", recém-lançado. Ali descobri que, desde há muito fora do Brasil, ele andara às voltas com o papa João Paulo 2º, Pelé, Salvador Dalí, Catherine Deneuve, Isabelita Perón, Yasser Arafat, François Mitterrand, Mikhail Gorbatchov, Paulo Freire. Não como jornalista, mas como parceiro em projetos envolvendo a ONU, a Unesco e órgãos afins. As fotos não mentiam --em todas, lá estava ele, irresistível, dando instruções àquelas figuras.
Outro dia, contei aqui que um exemplar da extinta nota de R$ 1 me caíra às mãos e fizera pensar no que ela representa hoje. Carlos, morando agora em Brasília, leu-a e me escreveu contando que, nos últimos 20 anos, sempre que vinha ao Brasil e comprava alguma coisa na rua, pedia o troco em notas de R$ 1 --que ia jogando em malas e gavetas. Minha crônica o alertou para a sua coleção. Foi lá olhar e descobriu que tem duas gavetas abarrotadas de notas de R$ 1.
É típico Carlos Marques. Aliás, o "lá" do título de seu livro significa qualquer lugar em que ele esteja.
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