O GLOBO - 24/07
A tolerância do Papa seria mais uma vez posta à prova no Palácio Guanabara, quando resistiu sem cochilar ao interminável discurso da presidente Dilma
O Papa Francisco, que por um engano de trajeto acabou nos braços do povo, vai encontrar um país onde há descrença na política e uma igreja às voltas com um preocupante declínio. Segundo pesquisa do Datafolha, os católicos ainda são maioria, mas já foram bem mais do que os 57% registrados agora. Em 2007, eram 64%, e há 20 anos, 75%, enquanto cresce o número dos evangélicos, uma concorrência difícil de enfrentar, já que eles praticam uma religião-espetáculo mais midiática, que oferece a preços variados recompensas imediatas aqui na Terra, não só no céu. Em relação aos políticos, o seu choque cultural vai ocorrer quanto aos costumes. Habituado à simplicidade e à moderação, o Jorge Bergoglio, que como cardeal andava de ônibus, e o Francisco, que, como Pontífice, trocou os trajes alegóricos pela batina branca, o sapato vermelho pelo preto, a pompa pelo despojamento, vão estranhar que no Brasil parlamentares e governantes prefiram a mordomia de pegar carona em avião e helicóptero oficiais.
A propósito, dificilmente um político brasileiro passaria pelo teste de popularidade a que foi submetido o Papa logo depois de chegar. Aconteceu quando o carro que o conduzia tomou uma pista errada no Centro da cidade e acabou preso no trânsito, ficando imobilizado por alguns minutos. Imediatamente cercado por uma multidão comovida e excitada, tentando tocá-lo de qualquer maneira, a cena deixou os seguranças tensos com o que poderia acontecer. Assistiu-se, então, a um impressionante e inesperado espetáculo, nunca visto nas ruas do Rio. Sereno e sorridente, sem levantar o vidro que manteve o tempo todo aberto, Francisco parecia achar tudo natural, até mesmo quando, além de mãos e braços, enfiaram pela janela um bebê para que ele beijasse e benzesse.
A tolerância do Papa seria mais uma vez posta à prova no Palácio Guanabara, quando resistiu sem cochilar ao interminável discurso da presidente Dilma, que, em vez de dar rápidas boas-vindas a um viajante exausto, fez um relatório do tipo “olha, Santidade, como estamos trabalhando”. A fala do nosso visitante foi mais curta e mais interessante, com tiradas dignas do grande comunicador que é. Foi muito aplaudido quando disse: “A juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo.” “Cristo bota fé nos jovens.” Por tudo isso, acho que a melhor definição dele foi dada por uma dessas garotas peregrinas que enfeitaram a cidade nestes dias: “O Papa é muito fofo.” E paciente.
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Pela disposição à solidariedade e o gosto pela vida, a francesa Claude Amaral Peixoto foi uma das mais autênticas cariocas que conheci. O Rio do encontro e da celebração vai sentir muito a sua falta.
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