FOLHA DE SP - 24/07
Corte de gastos é modesto; falta de dinheiro e inflação deixam política econômica meio à deriva
O GOVERNO federal apresentou seu corte de despesas, na verdade um plano modesto para reduzir o aumento da dívida neste ano e, de quebra, colaborar com a contenção da alta de preços (menos gasto em tese dá em menos inflação).
O governo conseguiu apresentar um "corte" adicional de apenas R$ 10 bilhões, parte disso puro vento ("reestimativas" de despesas). Não vai fazer grande diferença no tamanho da dívida nem na inflação. Trocando em miúdos, os economistas de Dilma Rousseff não puderam fazer muito mais do que quebrar o cofre de porquinho a fim de pegar umas moedas.
Além de reestimar despesas, o governo pretende cortar gastos em diárias, viagens e, algo mais importante, adiar contratações de pessoal. Como costumam dizer alguns rapazes (e raras moças) do mercado, o governo está cortando o cafezinho.
Quando se chega ao cafezinho é que a coisa está feia. Ou não há mais de onde tirar mesmo, na prática, ou alguns cortes foram evitados por bons motivos políticos e práticos.
Pode ser que cortes adicionais implicassem a suspensão ou a interrupção de investimentos essenciais, ou que redundariam em prejuízos ainda maiores (obras paradas custam muito). A pressão de alguns ministérios pode ter segurado alguns cortes.
Pode bem ser que, no curto prazo, agora que o caldo entornou, pouco pudesse ter sido feito de imediato a fim de conter gastos de maneira mais ou menos razoável. Decerto o governo pode ser mais eficiente, mas isso demanda estudos, planos, reformas, leis: tempo.
Reconhecer a dificuldade de cortar agora não significa também dizer que o governo não foi imprudente ou não errou grosseiramente ao reduzir impostos em 2012 e neste ano. Apenas no primeiro semestre de 2013, o governo federal deixou de arrecadar R$ 35 bilhões. O plano oficial, como se sabe, era estimular a economia. Com a produção andando mais rápido, a queda de receita talvez não fosse tão grande.
Não deu certo. O governo perdeu os dedos e os anéis, a faca e o queijo: a economia não vai crescer muito mais nem haverá dinheiro no caixa. Muita gente avisou com bons argumentos que tal plano não daria certo.
Não era por falta de estímulo ao consumo que a economia deixara de crescer, mas por falta de mais fatores de produção: mais mão de obra a bom preço e qualidade e mais capital (investimento). O investimento secou, entre outros motivos, justamente porque o custo da mão de obra e de matérias-primas estava alto demais (política econômica na biruta, problemas na economia mundial etc. também atrapalharam).
O governo está meio num mato sem cachorro. Parece estar sem instrumentos fiscais (manejo de receita e despesa a fim de influenciar o ritmo da economia). O Banco Central vai derrubar pelo menos um tico da inflação, o que vai exigir juros maiores. Não há medidas ou novidades à vista para animar a confiança de empresários e consumidores, ora em baixa. Virar do avesso a política econômica, o que seria doloroso, não parece estar nos planos de Dilma Rousseff (em nada disposta a reconhecer que sua política econômica fracassou).
Sem vento nas velas e com o leme carcomido, iremos assim meio à deriva até a eleição de 2014.
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