O GLOBO - 18/07
A presidente Dilma garantiu que a inflação terminará o ano dentro da meta. Com alegria, registrei aqui na coluna, na terça-feira, que a inflação de julho deve ficar muito perto de zero e isso estará claro logo na prévia do IPCA, que vai ser divulgado amanhã. Ela voltará a cair no acumulado de 12 meses, mas a presidente erra quando faz uma análise benigna da inflação brasileira.
A meta é 4,5%, e isso ela não entregou nem entregará durante seu governo. O próprio BC já faz projeções para 2015 para conseguir cenários de convergência. Em um terço do seu governo, o IPCA esteve acima do teto. O que ela tem razão é que ficará no intervalo permitido de flutuação, mas foi assim, aceitando como bom qualquer resultado abaixo de 6,5%, que o governo Dilma passou a ideia de conivência com a inflação. Isso ajudou a deteriorar as expectativas.
Os preços têm caráter sazonal, diz a presidente, repetindo uma platitude. E a sazonalidade é mais forte nos produtos in natura. No ano passado houve um choque nos preços agrícolas pela seca americana. Mas tudo somado não explica o que aconteceu nos últimos meses: uma inflação alta, disseminada, resistente. Há uma lição que a inflação já deu ao Brasil durante décadas: nunca subestimá-la; jamais aceitar conviver com ela. Uma taxa alta fica vulnerável a qualquer choque. E uma inflação que ronda os 6% com o país crescendo tão pouco é um péssimo sinal. A briga tem que ser contra a inflação e não contra quem alerta que ela está alta.
O economista Francisco Lopes publicou artigo no "Valor" sustentando que o país está crescendo a 4%. Usou dados do IBC-Br, do BC. "Se compararmos o trimestre de março a maio com o mesmo período de 2012, obtemos 3,74%." Na visão dele, "mídia e analistas sofrem de pessimismo obsessivo". Infelizmente, os dados que confirmam que houve piora na economia são abundantes demais para serem apenas frutos de obsessão. Em 2013, o país vai crescer mais do que em 2012, mas é até difícil crescer menos que 0,9%.
Chico é excelente economista e autor de estudos que estão na base teórica que levou à estabilização. Foram muitas as vezes em que ele me explicou, como entrevistado, como funciona a complexa economia brasileira. Uma das lições é que um dado isolado não diz nada. É preciso olhar um conjunto deles para entender a conjuntura. Especificamente, o IBC-Br tem problemas. Foi desenvolvido para antecipar o PIB do IBGE, mas claramente está precisando de aperfeiçoamentos porque tem errado para mais e para menos. Foram sete diferenças grandes em 13 comparações trimestrais (vejam no gráfico os números, extraídos de compilação feita mês atrás pelo Banco Fator).
Há uma lista de indicadores ruins: inflação acima da meta, PIB fraco, dívida bruta em alta, contas externas no vermelho, déficit na balança comercial, carga tributária recorde, taxas de poupança e de investimento em queda, endividamento recorde, superávit primário "real" cada vez menor. Infelizmente, são esses os dados e os fatos neste momento. Vamos torcer para que o país supere a má fase.
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