FOLHA DE SP - 18/07
Presidente parece acreditar que boato 'pessimista' levou o povo a acreditar que comida ficou cara
A PRESIDENTE tem "certeza" de que a inflação de 2013 vai ser menor do que o limite oficial de 6,5% ao ano. Essa certeza sustenta sua tese de que é "incorreto falar em descontrole da inflação", que seria uma "informação parcial", "muitas vezes" explorada de modo a confundir a opinião pública e a "criar um ambiente de pessimismo".
Foi o que Dilma Rousseff disse ontem ao Conselhão (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, de representantes da sociedade, de assessoria informal, do qual fazem parte vários empresários).
A presidente choveu no molhado com esse discurso de resto infeliz para quem em tese está dançando miudinho por causa dos efeitos da "voz das ruas".
Quase nenhum economista com algum crédito na praça acredita que a inflação vá passar de 6,5% ao fim de 2013, nem mesmo aqueles que detestam o governo de Dilma ou, nos casos mais extremos, nem aqueles de fato dedicados a difundir ideias pessimistas (como se tivessem tamanha audiência popular ou fosse necessário o esforço deles).
As pessoas comuns, que não dão a mínima para economistas ou comentaristas econômicos, começaram a fazer piadas amargas sobre o preço do tomate simplesmente porque os preços que mais pesam no seu orçamento e mais saltam à vista subiram um montão, simples assim: a comida ficou cara.
As piadas sobre o tomate começaram a circular por celulares e internets e conversas de rua ali por volta de março. O tomate era, claro, metáfora para supermercado salgado.
Talvez a presidente queira convocar a Polícia Federal para investigar a origem do rumor do tomate, lançado para "criar um ambiente de pessimismo". Mas seria mais simples verificar o IPCA de abril: foi nesse mês que a inflação da comida e bebida chegou a 14% (inflação acumulada em 12 meses). A tendência de alta vinha desde abril de 2012.
Preços de bens duráveis (carro, TV, eletrodomésticos) até chegaram a cair nesses meses. Mas as pessoas não compram carros rotineiramente; de resto, os preços de carros são tão revoltantes de altos que uma diferença de 2% mal chega a ser notada. O preço de comida, saúde, serviços e despesas pessoais, todos esses fomentadores de pessimismo cotidiano, subiram acima da inflação média. Subiram mais que o reajuste médio de salários no segundo trimestre deste ano.
Não entender tal coisa, que gasto com comida é tanto mais pesado quanto mais pobre o cidadão, atribuindo o pessimismo a "forças ocultas", é de fato entender muito pouco de gente e de "voz das ruas".
Enfim, é difícil lembrar de gente séria, da esquerda à direita, ou de movimentos horizontais e verticais que tenha falado em "descontrole da inflação". Muita gente falou é de descontrole do governo, que é outra coisa.
Porém estava óbvio que o Brasil se tornara um país caro, de dólar chegando a R$ 1,60, com deficit externo crescente (é mais barato comprar importados), com a margem de empresas eficientes caindo devido a custos altos, o que ajudou a derrubar investimentos etc. Da rua da feira às reuniões de empresários não se falava (fala) de outra coisa. Em que mundo vive a presidente?
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