CORREIO BRAZILIENSE - 18/07
O quadro eleitoral, que tinha competidores bem definidos antes dos protestos de junho, foi tomado pelas brumas da indefinição. Já se fala, sem qualquer cerimônia no meio político, na hipótese de a presidente Dilma Rousseff não disputar a reeleição. Já se admite um racha no PSDB, que Aécio Neves acreditava ter unificado, com José Serra concorrendo por outro partido. E ninguém sabe, com certeza, que rumo tomará esse navio de muitas bandeiras que é o PMDB: a aliança com o PT está por um triz. Sobre esse cenário, pairam as indagações sobre o que fará o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula, que viajou para o exterior no início dos protestos, ficou fora três semanas, conversou por três horas com Dilma após o retorno, guarda silêncio, mas não está parado. Pelo contrário, tem conversado muito. Inclusive com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do qual andou afastado. É certo também que Lula, no mais recôndito da intimidade política, tem se queixado da "teimosia" de Dilma, de seu centralismo e de sua dureza no trato político. "Agora que a popularidade caiu, talvez ela nos ouça mais", disse a um ministro de seu governo. Mas ele tem se queixado também do PMDB, que ele levou para o governo em 2006, entregando-lhe pastas poderosas. Ajudou a eleger governadores do partido, como Sérgio Cabral, no Rio, cujo governo irrigou com apoio e verbas. Depois, costurou a coligação para eleger Dilma, tendo Michel Temer como vice.
Os protestos jogaram o quadro eleitoral nas brumas da indefinição, e sobre elas pairam as indagações sobre o que fará o ex-presidente Lula
Hoje, Lula participa do encerramento de uma conferência sobre a política externa brasileira no período 2003-2013, vale dizer, no seu governo e no de Dilma, na Universidade Federal do ABC (UFABC). Será a primeira aparição pública depois dos protestos, o que alimenta alguma expectativa no meio político sobre o que dirá. Sabe-se, por petistas, que ele já se queixou de Dilma também nessa área. Acha que ela poderia estar aproveitando o vazio deixado pela morte de Hugo Chávez para ampliar a própria influência e a do Brasil. Isso exigiria uma ofensiva regional maior e mais solidária. Certo é que Lula fez duas inflexões recentes: uma em relação a Dilma, externando, ainda que reservadamente, algumas restrições (depois de ouvir tantas reclamações de empresários, políticos e movimentos sociais), e outra em relação a Campos, retomando o diálogo, por mais que os amigos do governador digam que eles nunca deixaram de se falar. Campos, por sua vez, está mais contido, optando por falar de problemas econômicos nos eventos políticos. A saúde de Lula é uma preocupação para todos os que vêm nele a continuidade possível da esquerda no governo central. Apesar dos boatos, amigos dele garantem que ele está bem e livre do câncer. Por tudo, desperta interesse sua fala de hoje em São Bernardo do Campo (SP). Em Brasília, é tempo de névoa seca.
Tocaia grande
O jantar de anteontem à noite na casa do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), era pelo encerramento do semestre legislativo, mas transformou-se em sessão de protestos contra o tratamento recebido do governo. Compareceram mais de 70 deputados, mas foram de 15 a 20 os que ficaram até mais tarde e pressionaram o presidente da Câmara e o presidente em exercício do partido, Valdir Raupp, por definições em relação ao governo. O vice-presidente, Michel Temer, que também está auscultando a bancada da Câmara, bem como o líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), já haviam saído. "O que estamos fazendo nesse governo débil e arrogante, que precisa do PMDB e trata o partido como capacho?" A frase resume os resmungos da noite. Raupp marcou outro jantar para ontem à noite, prometendo que, daqui para a frente, fará reuniões periódicas para tratarem de política, e não de ação parlamentar. Mas, como disse o líder Eduardo Cunha na entrevista ao Correio publicada no domingo, a bancada, por ora, briga para entrar no governo, não para sair. Isso, porém, depende da evolução da popularidade da presidente, que teve quedas confirmadas pela CNT-MDA.
Certo é que o PMDB está de tocaia: violou a Constituição, decretando um recesso branco sem aprovar a LDO, porque planeja aprovar, em 6 de agosto, a liberação impositiva de emendas parlamentares. Agora alguns peemedebistas já se dão ao luxo de recusar a liberação de emendas pelo governo, apostando no futuro. Como explica um notável do partido, a regra impositiva é que garantirá condições mais iguais de disputa, em 2014, pelo menos entre os partidos da base. E sobrará, por tabela, benefícios para a oposição, que, naturalmente, apoia a iniciativa.
Dilma: humana e comovida
A Dilma racional, objetiva e durona foi tocada em algum ponto sensível, no encontro de segunda-feira com as líderes evangélicas que se encontraram com ela, com a mediação do ministro da Pesca, Marcelo Crivella. A oração de mãos dadas "pelo momento difícil do país" e o marejar dos olhos durante alguns cânticos já foram registrados. Antes, porém, todas elas falaram das adversidade que enfrentaram como mulheres. A bispa Sônia Hernandez impressionou muito ao falar da prisão nos EUA e do filho em coma. Não sendo feministas, disseram entender que Dilma enfrenta restrições porque é mulher e porque não abdica da autoridade. Foi nessa parte da conversa que Dilma as levou para o gabinete, conferindo mais intimidade ao encontro, onde chegaram a prometer uma campanha com mote já usado: "Mexeu com Dilma, mexeu comigo".
Lula, que viajou para o exterior no início dos protestos, ficou fora três semanas, conversou por três horas com Dilma após o retorno, guarda silêncio, mas não está parado. Pelo contrário, tem conversado muito. Inclusive com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do qual andou afastado. É certo também que Lula, no mais recôndito da intimidade política, tem se queixado da "teimosia" de Dilma, de seu centralismo e de sua dureza no trato político. "Agora que a popularidade caiu, talvez ela nos ouça mais", disse a um ministro de seu governo. Mas ele tem se queixado também do PMDB, que ele levou para o governo em 2006, entregando-lhe pastas poderosas. Ajudou a eleger governadores do partido, como Sérgio Cabral, no Rio, cujo governo irrigou com apoio e verbas. Depois, costurou a coligação para eleger Dilma, tendo Michel Temer como vice.
Os protestos jogaram o quadro eleitoral nas brumas da indefinição, e sobre elas pairam as indagações sobre o que fará o ex-presidente Lula
Hoje, Lula participa do encerramento de uma conferência sobre a política externa brasileira no período 2003-2013, vale dizer, no seu governo e no de Dilma, na Universidade Federal do ABC (UFABC). Será a primeira aparição pública depois dos protestos, o que alimenta alguma expectativa no meio político sobre o que dirá. Sabe-se, por petistas, que ele já se queixou de Dilma também nessa área. Acha que ela poderia estar aproveitando o vazio deixado pela morte de Hugo Chávez para ampliar a própria influência e a do Brasil. Isso exigiria uma ofensiva regional maior e mais solidária. Certo é que Lula fez duas inflexões recentes: uma em relação a Dilma, externando, ainda que reservadamente, algumas restrições (depois de ouvir tantas reclamações de empresários, políticos e movimentos sociais), e outra em relação a Campos, retomando o diálogo, por mais que os amigos do governador digam que eles nunca deixaram de se falar. Campos, por sua vez, está mais contido, optando por falar de problemas econômicos nos eventos políticos. A saúde de Lula é uma preocupação para todos os que vêm nele a continuidade possível da esquerda no governo central. Apesar dos boatos, amigos dele garantem que ele está bem e livre do câncer. Por tudo, desperta interesse sua fala de hoje em São Bernardo do Campo (SP). Em Brasília, é tempo de névoa seca.
Tocaia grande
O jantar de anteontem à noite na casa do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), era pelo encerramento do semestre legislativo, mas transformou-se em sessão de protestos contra o tratamento recebido do governo. Compareceram mais de 70 deputados, mas foram de 15 a 20 os que ficaram até mais tarde e pressionaram o presidente da Câmara e o presidente em exercício do partido, Valdir Raupp, por definições em relação ao governo. O vice-presidente, Michel Temer, que também está auscultando a bancada da Câmara, bem como o líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), já haviam saído. "O que estamos fazendo nesse governo débil e arrogante, que precisa do PMDB e trata o partido como capacho?" A frase resume os resmungos da noite. Raupp marcou outro jantar para ontem à noite, prometendo que, daqui para a frente, fará reuniões periódicas para tratarem de política, e não de ação parlamentar. Mas, como disse o líder Eduardo Cunha na entrevista ao Correio publicada no domingo, a bancada, por ora, briga para entrar no governo, não para sair. Isso, porém, depende da evolução da popularidade da presidente, que teve quedas confirmadas pela CNT-MDA.
Certo é que o PMDB está de tocaia: violou a Constituição, decretando um recesso branco sem aprovar a LDO, porque planeja aprovar, em 6 de agosto, a liberação impositiva de emendas parlamentares. Agora alguns peemedebistas já se dão ao luxo de recusar a liberação de emendas pelo governo, apostando no futuro. Como explica um notável do partido, a regra impositiva é que garantirá condições mais iguais de disputa, em 2014, pelo menos entre os partidos da base. E sobrará, por tabela, benefícios para a oposição, que, naturalmente, apoia a iniciativa.
Dilma: humana e comovida
A Dilma racional, objetiva e durona foi tocada em algum ponto sensível, no encontro de segunda-feira com as líderes evangélicas que se encontraram com ela, com a mediação do ministro da Pesca, Marcelo Crivella. A oração de mãos dadas "pelo momento difícil do país" e o marejar dos olhos durante alguns cânticos já foram registrados. Antes, porém, todas elas falaram das adversidade que enfrentaram como mulheres. A bispa Sônia Hernandez impressionou muito ao falar da prisão nos EUA e do filho em coma. Não sendo feministas, disseram entender que Dilma enfrenta restrições porque é mulher e porque não abdica da autoridade. Foi nessa parte da conversa que Dilma as levou para o gabinete, conferindo mais intimidade ao encontro, onde chegaram a prometer uma campanha com mote já usado: "Mexeu com Dilma, mexeu comigo".
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