O GLOBO - 19/07
Em pronunciamentos recentes, em especial os voltados para representantes do mundo empresarial, a presidente Dilma enfatizou que a inflação este ano ficará “dentro da meta” e que o governo não deixará que os preços fujam ao controle.
Mas num mesmo pronunciamento a presidente também fez a defesa da política fiscal do seu governo, afirmando que os gastos com pessoal, como percentual do Produto Interno Bruto (PIB), estão no menor patamar dos últimos anos, além de chamar a atenção para a estabilização do déficit da previdência social em termos relativos e a queda das despesas com juros.
Ainda bem que o próprio Ministério da Fazenda reconhece que é preciso um ajuste na execução do orçamento federal, para que o setor público de fato consiga atingir um superávit primário equivalente a 2,3% do PIB em 2013 — de preferência, sem “contabilidade criativa”. Um corte de R$ 15 bilhões nos gastos está para ser anunciado.
O ajuste é claramente uma resposta favorável aos apelos que o Banco Central vem embutindo em seus seus documentos de avaliação sobre a trajetória da inflação, como é o caso da ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) ontem divulgada. Na linguagem peculiar dessas atas, o BC assinala a importância da geração de superávits primários nas contas públicas para que as metas de inflação sejam alcançadas, contribuindo “para arrefecer o descompasso entre as taxas de crescimento da demanda e da oferta”, e solidificando “a tendência de redução da razão dívida pública sobre o PIB e a percepção positiva sobre o ambiente macroeconômico no médio e longo prazos”.
De fato, na atual conjuntura de baixo crescimento, a inflação deveria ter recuado, não fosse a política fiscal expansionista que o governo federal resolveu adotar como terapia para evitar a contaminação da economia brasileira pela crise financeira internacional. A opção se mostrou equivocada, pelos resultados registrados (fraco crescimento associado a uma alta de preços), e, simultaneamente, pôs em descrédito todo o esforço feito para fortalecer os chamados fundamentos econômicos do país. Malabarismos contábeis se tornaram a tônica do ajuste das finanças públicas, mas não convenceram ninguém, muito menos as agências internacionais de avaliação de risco que puseram o conceito do Brasil em perspectiva negativa.
Se o governo agora deseja mesmo baixar a inflação para o centro da meta, precisa seguir as recomendações do Copom.
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