O principal recado que o Banco Central passou nesta quinta-feira por meio da Ata do Copom é de que a inflação continua “elevada e resistente” e que, nessas condições, continua precisando de corretivo.
É uma importante diferença de tom quando se compara essa postura com o que ficou dito pela presidente Dilma Rousseff no dia anterior, na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Ela preferiu outra ênfase: a de que a inflação está cada mês mais baixa, o que não deixa de ser verdade, e tem caráter preponderantemente sazonal, conceito que não deixa de encerrar certa dose de esquisitice, porque suas causas não são sazonais.
Para o Banco Central, presidido pelo economista Alexandre Tombini, a inflação tem a ver com o consumo forte demais, com “a estreita margem de ociosidade no mercado de trabalho” e com o “balanço do setor público em posição expansionista”. Como se vê, há aí também uma divergência de tom e de conteúdo em relação ao diagnóstico apresentado pela presidente Dilma: de que “a atual política fiscal é robusta”. Se tem uma política fiscal robusta, o governo que faz questão de ter 39 ministérios não precisaria disfarçar as contas públicas com manobras de criatividade contábil.
O ponto de convergência entre ambos está em que a onda de pessimismo pela qual se deixam contaminar os agentes da economia (produtores e consumidores) contribui para acentuar a alta. O parágrafo 21 da Ata menciona explicitamente a ação negativa sobre os preços exercida pelo “declínio que ora se registra na confiança das firmas e famílias”. A diferença está no tratamento a ser dado a essa onda de pessimismo. A presidente Dilma parece acreditar mais na força do discurso; o Banco Central procura deixar claro que a melhor maneira de recuperar credibilidade no seu principal mister, o do contra-ataque à inflação, é adotar a dose mais adequada de juros.
O principal foco de atenção do Banco Central no acompanhamento da inflação futura são as pressões provocadas pelo avanço do câmbio, que deverão atuar como fator de realinhamento dos preços relativos na economia e, nessas condições, gerar pressões inflacionárias de curto prazo, diz o Banco Central (parágrafo 25).
A cotação do dólar tomada como referência para definição da inflação futura deixou de ser os R$ 2,05 tomados há um mês para ser R$ 2,25. É um nível quase 10% mais alto, que concorrerá para o encarecimento em reais dos produtos importados e, portanto, para mais inflação, a ser combatida com algum aperto monetário (alta dos juros).
Permeia o texto da Ata certa preocupação com a atividade econômica mais fraca do que a esperada. Em sintonia com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o Banco Central sugere que, apesar de tudo, o crescimento econômico deste ano e do seguinte deverá ser maior do que o de 2012 (avanço do PIB de 0,9%), mas adverte que, se não devidamente contida, a inflação pode prejudicar esse desempenho melhor.
Aparentemente, o Banco Central ainda não tem clareza sobre a extensão do atual movimento de aperto monetário (alta dos juros) iniciado em abril. O mercado oscilará agora entre a expectativa de que o nível atual dos juros básicos, de 8,50% ao ano, ainda avance neste ano para 9,25% ou para 9,50% ao ano.
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