sexta-feira, julho 19, 2013

Lei do bom senso - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 19/07
A violência das manifestações no Rio de Janeiro impõe cuidados especiais na estratégia de segurança do papa. Cenas de depredação, saques, quebra de vitrines, destruição de agências bancárias e fogueiras no meio de ruas dão recado claro às autoridades: manter a integridade do ilustre visitante será desafio para cuja resposta não se admite falha.

Dois fatores convergentes e indissociáveis orientam as ações necessárias à proteção de um chefe de Estado. De um lado, consideram-se as regras do país de origem. De outro, as que vigem na nação anfitriã. Trata-se de tática em que as duas fontes buscam a máxima harmonia para que, em caso de eventual falha, os deslizes não sejam facilmente atribuíveis a uma ou a outra parte. Em bom português: há corresponsabilidades.

Visões românticas, como a do ministro Gilberto Carvalho, devem ser descartadas sem titubeios. O secretário-geral da presidente Dilma Rousseff afirmou que o povo se encarregará de proteger Francisco. É claro que a maioria dos que acompanharão o evento - mais de 1 milhão de pessoas - não pensa em promover badernas ou ataques ao pontífice. Mas daí a atribuir-lhes o papel de guardiães vai abissal distância.

O Vaticano também parece ter o olhar distante da realidade. Emissários da cidade-Estado insistem em afrouxar as cautelas que têm de cercar o chefe da Igreja Católica. O maior impasse reside na blindagem do papamóvel. Seria desejo de Francisco abrir mão da defesa para que as aparições públicas sejam feitas em veículo sem vidro. Assim, o contato com adultos e crianças ganharia naturalidade e calor humano.

É inaceitável. Jorge Mario Bergoglio andava a pé e circulava de ônibus pelas ruas de Buenos Aires. Fazia-o na condição de cardeal. Na de papa, tem restrições na liberdade de ir e vir. O pouco tempo de papado, aliado a invejável carisma, longe está de criar escudo apto a protegê-lo em terras brasileiras. O governo não pode sucumbir à ingenuidade de que a culpa pelo afrouxamento do rigor, em caso de atentado, não lhe seja totalmente atribuída. Tudo será debitado ao Brasil.

Urge que o Itamaraty e o Vaticano revejam os planos de segurança a fim de que nem vontades pessoais nem visões oraculares ofusquem a Jornada Mundial da Juventude com a mácula da violência. Como responsável em última instância pela segurança do papa e dos eventos que envolvem sua presença, é imprescindível recorrer a esquema rigoroso que não abdique do papamóvel blindado. O risco a Sua Santidade tem o dom da multiplicação. Põe em perigo a guarda que o acompanha, os agentes brasileiros, a população e a imagem nacional. Não é pouco.

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