O GLOBO - 19/07
É dever e interesse dos manifestantes legítimos fazerem o possível para não serem confundidos com baderneiros, amadores ou profissionais
É muito fácil falar mal da polícia, aqui e na maioria dos países — mesmo nos mais adiantados, com a possível exceção de democracias tranquilas, tipo Suíça ou Noruega.
Em geral, quem reclama e se queixa é a opinião pública — da qual a imprensa é, ou tenta ser, porta-voz tão fiel quanto eloquente (ou, na opinião de alguns, simplesmente barulhento). É por isso notável o comportamento do nosso governo estadual, a propósito da reação da PM às manifestações populares de dias recentes.
É indiscutível que, por mais justa que fosse a causa, a rapaziada caiu na bagunça. Talvez seja mais correto dizer que, no meio de uma manifestação legítima e em boa causa, havia grupos que perderam o controle, se é que já não saíram de casa sem ele. E seu comportamento obviamente prejudicou a visão da opinião pública sobre um protesto absolutamente legítimo. Não é fácil, para os legítimos líderes dos eventos, evitar que isso aconteça — mas devem ter essa preocupação, evitá-lo tanto quanto possível.
A ação dos policiais, embora legítima na sua origem e na sua intenção, foi prejudicada, na opinião pública, pela falta de controle de alguns deles. Principalmente no caso de uma moça de 26 anos, atingida por uma bomba lançada por um PM, que lhe causou a perda da visão num olho.
É notável — e raro — que as autoridades tenham reconhecido que os policiais reagiram com força excessiva. Talvez seja necessário incluir na formação de policiais a consciência de que a energia usada na repressão a criminosos profissionais não pode ser a mesma empregada no restabelecimento da ordem em protestos legítimos de cidadãos.
Pode ser possível — na verdade, indispensável — incluir, na formação dos nossos PMs, a consciência de que deve haver uma nítida diferença entre o combate a bandidos e a manutenção da ordem no caso de manifestações de reivindicação ou protesto de cidadãos honestos. É provável ou talvez inevitável que, nesta segunda hipótese, baderneiros ou mesmo criminosos profissionais entrem em ação.
Cabe à polícia — e reconhecemos que não é muito fácil, às vezes quase impossível — distinguir uns de outros. Manter a ordem já não é simples; restabelecê-la, bem mais complicado.
Mas não custa lembrar que também é dever e interesse dos manifestantes legítimos fazerem o possível para não serem confundidos com baderneiros, amadores ou profissionais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário