O GLOBO - 13/06
A presidente Dilma Rousseff, disposta a "fazer o diabo" para se reeleger, montou uma estratégia de sufocamento dos possíveis adversários saídos da base governista, mais capazes de lhe roubar votos de eleitores petistas. Eduardo Campos, governador de Pernambuco, e a ex-senadora Marina Silva são os alvos preferenciais. Marina pela capacidade já demonstrada na eleição de 2010 de penetrar na esquerda ecológica, numa classe média moderna e nos evangélicos, e Campos pela potencialidade de atuação no Nordeste, onde o PT e seus aliados, inclusive o PSB, são fortes a ponto de terem dado a Dilma o dobro de votos que o candidato tucano José Serra recebeu.
O governador Eduardo Campos teria condições de reduzir essa vantagem da presidente em 2014, tirando-lhe a hegemonia do Nordeste, e por isso há um verdadeiro cerco aos governadores do PSB para que não apoiem a candidatura de Campos. Alguns deles, como Cid Gomes do Ceará, vocalizam tranquilamente o apoio à reeleição de Dilma.
Quem conversou com o governador nos últimos dias viu-o muito irritado com esse arrocho do Palácio do Planalto, mas revelando dificuldades maiores do que o previsto para colocar de pé sua candidatura, sem o apoio do próprio partido. Ainda permanece com disposição de candidatar-se, mas parece incapaz de convencer seus próprios aliados de que derrotar Dilma é uma tarefa possível.
No caso de Marina, a manobra foi aprovar no Congresso legislação que desestimula a construção de novos partidos, tirando deles a possibilidade de ter o tempo de televisão e o fundo partidário correspondentes a seus membros fundadores. Um critério completamente oposto ao que vigorava até então, e que deu viabilidade à criação do PSD.
O tratamento desigual é tão óbvio que o ministro Gilmar Mendes, do Supremo, deu uma liminar aos partidos de oposição que acusavam o governo de estar por trás dessa manobra para inviabilizar não apenas a Rede, o partido de Marina, mas também o do líder sindical Paulinho da Força, que pretende criar o Solidariedade.
O Supremo pode terminar o julgamento do caso hoje, depois de tê-lo retomado ontem com a leitura do relatório de Mendes, todo ele baseado na defesa do direito das minorias em uma democracia. Para o relator, seria absurdo admitir-se que em uma mesma legislatura dois pesos e duas medidas fossem adotados para casos idênticos como a criação de um partido, já havendo a decisão favorável do Supremo que deu direito ao PSD de ter tempo de televisão e participação no fundo partidário equivalente aos seus membros fundadores.
A ex-senadora Marina Silva estava na plateia, e ela tem contado com o apoio tanto de Aécio Neves quanto de Eduardo Campos na sua batalha política contra o Palácio do Planalto, e também no recolhimento de assinaturas para a criação da Rede.
Marina deixou o PT e o governo Lula depois de 30 anos de militância, por "falta de condições políticas" para avançar na sua luta "de fazer a questão ambiental alojar-se no coração do governo e do conjunto das políticas públicas". A disputa entre ela e a então superministra Dilma Rousseff ficou marcada como a luta entre os ambientalistas e uma "tocadora de obras" que, assim como o presidente Lula, se irrita com a preocupação com a preservação dos bagres, que atrasa a construção de hidrelétricas.
A última derrota de Marina foi consequência da decisão do presidente Lula de entregar ao então ministro de Planejamento Estratégico, Mangabeira Unger, o Plano da Amazônia Sustentável, o que a fez deixar o Ministério do Meio Ambiente. Na eleição de 2010, Marina não teve gana suficiente para atacar diretamente a candidata Dilma, e no segundo turno ficou neutra depois de receber 20% dos votos. Sua alma petista falou mais alto. Mas hoje, pelo menos enquanto se considera ameaçada por manobras do governo, Marina já não parece disposta a relevar atitudes de ex-companheiros.
A solidariedade que vem recebendo de outros personagens que estão na oposição ao governo Dilma faz prever que possivelmente, num eventual segundo turno, haja uma solidariedade política entre os candidatos oposicionistas. Pelo menos sabem que esta seria a única maneira de tentar derrotar a máquina governista.
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